Thursday, January 31, 2008

Balada dos Doutores I

(Versão integral).

Que quem já é professor sofra tormentos, enfim! Mas aos bolseiros, ó Zé, porque lhes dais tanta dor?!... Porque os enganais assim?!...

Quantos doutorados estão a trabalhar em Portugal? Quantos estão desempregados? Vamos admitir que a percentagem de doutores desempregados é muito pequena, a mais baixa de todas as classes de habilitações académicas (já se sabe que a agregação não é um grau: é um título). Qual a diferença entre os vencimentos dos doutorados e das pessoas com outras habilitações? Suponhamos, também que vale a pena investigar e investir num doutoramento: ter um doutoramento aumenta a probabilidade de encontrar emprego, reduz a probabilidade de estar desempregado e tem vantagens salariais consideráveis. Que os doutorados estão, em geral, a exercer profissões adequadas às suas qualificações e não a preencher lugares destinados a pessoas menos qualificadas. Tudo isto não serve de nenhum consolo à doutora Maria e ao doutor Manuel, que estão desempregados. Um doutorado pode auferir, no início de carreira, cerca de 42 mil Euros brutos por ano. Considerando que o vencimento é uma medida do valor do trabalho, cem doutorados desempregados representam uma perda de 4,2 milhões de Euros por ano, todos os anos. Uma bagatela, comparada como o preço do novo aeroporto, do TGV ou até com os prémios do Euromilhões. Então porque se preocupar? Porque a mind is a terrible thing to waste.

Wednesday, January 30, 2008

Balada dos Doutores II

O Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais (GPEARI) «tem por missão garantir o apoio técnico à formulação de políticas e ao planeamento estratégico e operacional, em articulação com a programação financeira, assegurar, directamente ou sob a sua coordenação, as relações internacionais, e acompanhar e avaliar a execução de políticas nos domínios da ciência, tecnologia, ensino superior e sociedade da informação, dos instrumentos de planeamento e os resultados dos sistemas de organização e gestão, em articulação com os demais serviços do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior» (MCTES). A directora do GPEARI é Maria João Valente Rosa, doutorada em 1993, em sociologia, especialidade demografia, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde é professora auxiliar com nomeação definitiva no departamento de sociologia, mas exerce funções na administração pública desde Outubro de 2000. A directora do GPEARI é, também, mestrada em demografia histórica e social (1988) e licenciada em sociologia, pela mesma faculdade, A demografia é a sua área de investigação, em especial nos domínios da prospectiva e cenários demográficos, envelhecimento da população, impactos societais das dinâmicas demográficas e as migrações e sistemas demográficos. O encarregado da pasta do MCTES é um dos ministros mais populares da actualidade (Out. 2007): José Mariano Rebelo Pires Gago, professor catedrático de física do Instituto Superior Técnico(IST) da Universidade Técnica de Lisboa (UTL), licenciado em engenharia electrotécnica pelo IST da UTL ou formado em Física (conforme a fonte) e doutorado em Física, soube-se particularmente, pela Université Pierre et Marie-Curie, Paris 6.

Tuesday, January 29, 2008

Balada dos Doutores III

No desempenho das suas atribuições na área da informação estatística, o GPEARI, publicou, com data de Setembro p.p., A procura de emprego dos diplomados desempregados com habilitação superior onde consta que em Junho de 2006 estavam desempregados 63 doutores: 17 (27 por cento do total) há menos de três meses; 13 (21 %) há mais de 3 e menos de 6 meses; 12 (19 %) há mais de 6 e menos de 1 ano; 15 (24 %) há mais de um e menos de dois anos; e 6 (9 %) há mais de dois anos. Um ano mais tarde, em Junho deste ano de 2007, o total de doutorados desempregados é de 64, distribuídos assim, pelos períodos referidos acima: 16 (25 %), 5 (8 %), 19 (30 %), 12 (19 %) e 12 (19 %). Estes números não são aqui apresentados na forma de tabelas por a leitura destas depender do programa utilizado para a sua leitura, mas não será má ideia registá-los nessa forma para seguir, mais facilmente o raciocínio. Segundo o GPEARI: «Em ambos os momentos de referência, a maioria dos desempregados de todos os graus têm um tempo de inscrição inferior a 1 ano.», mas omite-se o facto de o número de doutorados desempregados há mais de dois anos ter duplicado, de 6 para 12.

Monday, January 28, 2008

Balada dos Doutores IV

Quanto ao número de doutorados desempregados por grupos etários de 25 a 34, 35 a 44, 45 a 49 e 50 anos ou mais, os valores para Junho de 2006 são, respectivamente: 13 (20 %), 28 (44 %), 8 (13 %) e 14 (22 %). Em Junho de 2007, como refere o GPEARI, «a estrutura etária da população desempregada com habilitação superior não se revela significativamente diferente» e são, respectivamente: 15 (23 %), 24 (38 %), 10 (13 %) e 15 (22 %). «O menor número de desempregados com habilitação superior ocorre no grupo 45 a 49 anos, em ambos os anos … No caso do grau de Doutor o maior número de desempregados situa-se no grupo etário 35 a 44 anos», enquanto que, para as outras habilitações superiores, é no grupo etário imediatamente inferior (25 a 34 anos). Em ambos os momentos de referência, a maioria dos doutorados desempregados têm idades inferiores a 45 anos. Enquanto em Junho de 2006 a percentagem de mulheres doutoradas desempregadas era de 52 por cento, em 2007 essa percentagem aumentou para 64 por cento (41 doutoras) o que o GPEARI descreve, delicadamente, como tendo-se «[acentuado] a supremacia estatística das mulheres desempregadas com o grau de Doutor». Sobre os doutores desempregados o GPEARI nada mais adianta.

Sunday, January 27, 2008

Balada dos Doutores V

Acontece que, na sequência do «Inquérito à inserção profissional dos ex-bolseiros de doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT)», realizado, de forma regular, entre 1998 e 2002, foi elaborado e distribuído material de apoio para uma comunicação apresentada na «Conferência Regional de Lisboa e Vale do Tejo», no Centro de Formação Profissional de Santarém, em 10 de Março de 2005. A partir desse material, as autoras Isabel Gonçalves, Joana Duarte e Helena Saleiro, publicaram, em 2006, pelo Observatório da Ciência e do Ensino Superior (OCES), «A Situação Profissional dos ex-Bolseiros de Doutoramento». No GPEARI, que, entre outras, sucedeu, nas atribuições, ao OCES, Isabel Gonçalves está nos «Estudos de I&D e Inovação» e Joana Duarte é coordenadora do projecto «Inquérito aos Doutorados», no qual trabalha com mais quatro funcionários da Direcção de Serviços de Informação Estatística em Ciência e Tecnologia.

Saturday, January 26, 2008

Balada dos Doutores VI

O primeiro inquérito, realizado em 1997, foi elaborado pelo consórcio DINÂMIA/CIDEC com o objectivo de compreender o impacte na vida profissional dos bolseiros do Programa CIÊNCIA de Formação Avançada de Recursos Humanos em C&T. O DINÂMIA, Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica, fundado em 1989, é um centro de excelência da FCT, associado do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), onde tem a sua sede, presidido pela professora doutora Isabel Salavisa Lança. O CIDEC, Centro Interdisciplinar de Estudos Económicos é uma associação privada sem fins lucrativos de utilidade pública, fundada em 1984 por docentes e investigadores universitários do ISCTE, com sede no Palácio Pancas Palha, presidida por João Ferreira de Sousa, professor auxiliar convidado do departamento de economia do ISCTE, objecto de notícia recente e que já fez correr muita tinta em 2003 e 2004 (a e b). A segunda operação de inquérito, e a primeira da responsabilidade do Observatório das Ciências e das Tecnologias (OCT), depois OCES e agora GPEARI, lançada no final de 1998, incidiu sobre os ex-bolseiros de doutoramento da FCT que tinham terminado a sua bolsa entre 1990 e Novembro de 1998. Assim, foram incluídos no universo de análise os ex-bolseiros que já tinham sido inquiridos no primeiro inquérito, do qual, a publicação de 2006, acima referida, não apresenta quaisquer resultados. Os inquéritos realizados abrangem um total de 3 558 inquiridos e respeitam aos ex-bolseiros que terminaram a bolsa de doutoramento entre 1990 e 2001. Responderam ao inquérito 3 122 indivíduos, representando uma taxa média de resposta de 88 por cento. No seguimento do último inquérito, realizado em 2002, o OCES estava a trabalhar, em 2005, conjuntamente com a UNESCO, EUROSTAT e OCDE, num projecto de inquérito às trajectórias profissionais dos doutorados, harmonizado internacionalmente. O inquérito tornar-se-ia extensivo a todos os doutorados, independentemente de terem beneficiado ou não de financiamento para a realização do doutoramento, alargando-se o universo estatístico. Até à data, não há notícia de quaisquer resultados, mas qualquer pessoa se pode dirigir ao GPEARI e solicitar esses dados. O GPEARI é que talvez se recuse a fornecê-los.

Friday, January 25, 2008

Balada dos Doutores VII

Dos 3 122 ex-bolseiros, 45 por cento são do sexo feminino, tendo aumentado de 42 para 50 por cento entre os respondentes aos inquéritos de 1999 a 2002. Tinham terminado o doutoramento 1 734 (56 %) ex-bolseiros, aquando da conclusão da bolsa de doutoramento, correspondendo a maioria (965 ou 56 % dos 1 734) a bolsas usufruídas no estrangeiro. Destes 1 734 doutorados, 93 (3 por cento do total de ex-bolseiros e 5 por cento dos doutorados) declararam não exercer qualquer actividade profissional. Dos 1 388 que não terminaram o doutoramento, 1 004 (32 %), encontravam-se a desenvolver uma outra actividade profissional, um pequeno número, 349 (11 %), estavam ainda a realizar o doutoramento e mais 35 (1 %) declararam não exercer qualquer actividade profissional, perfazendo um total de 128 (4 %) desempregados. Tanto o número como a percentagem de ex-bolseiros que abandonaram o doutoramento são valores que requerem uma análise muito séria sobre estes programas e os seus responsáveis.

Thursday, January 24, 2008

Balada dos Doutores VIII

Infelizmente há um erro numa conta de somar no Quadro 3.1 do trabalho de Gonçalves, Duarte e Saleiro que dificulta a análise do mesmo. Face aos restantes valores desse Quadro 3.1, o número dos 3 122 ex-bolseiros que exercem uma actividade profissional depois da conclusão da bolsa de doutoramento, incluindo os bolseiros de pós-doutoramento, só pode ser de 2 645 e não 2 677 como é indicado. O problema é que o total de 2 677 é novamente indicado nos quadros 3.2.1 a 3.2.3, o que não ajuda nada a conciliar os valores entre os vários quadros. No Quadro 3.2.3 o número de ex-bolseiros que desenvolvem actividade profissional somado ao bolseiros de pós-doutoramento é de 2 677. Por outro lado o número daqueles que não exercem qualquer actividade profissional é de 445 (14 %), mais do triplo do valor indicado no Quadro 3.1 (128 ou 4 %).

Wednesday, January 23, 2008

Balada dos Doutores IX

O Quadro 3.2.3 é muito bonito, mas tem uma ausência notória de valores em percentagem, talvez devido à relativa dificuldade matemática que o seu cálculo envolve, por ser mais difícil dividir contando pelos dedos. Consequentemente, a análise dessas percentagens também não está no texto, talvez devido às interessantes conclusões que poderiam ter sido tiradas, mas não foram. As seis área científicas não têm a mesma dimensão, segundo os mais variados prismas, mas o que se pode constatar é que as Engenharias e Tecnologias (ET), com 877, representam mais de um quarto dos 3 122 ex-bolseiros. Ouça-se o que os números dizem, quando os deixam falar. Os valores em percentagem (e absolutos) para as seis áreas são os seguintes: 1.ª ET: 26 % (877); 2.ª Ciências Exactas (CE): 19 % (599); 3.ª Ciências Naturais (CN): 19 % (594); 4.ª Ciências Sociais e Humanas (CSH): 18 % (579); 5.ª Ciências da Saúde (CS): 12 % (372); e 6.ª Ciências Agrárias e Veterinárias (CAV): 6 % (171). Até aqui, nada de especial, a ordenação é a mesma dos valores absolutos só fica mais fácil de perceber que as ET tiveram quase cinco vezes mais bolseiros que as CAV. Que não houve grandes diferenças entre as três áreas de CE, CN e CSH, e que as CS ficaram a meio caminho entre a grande (ET) e a pequena (CAV).

Tuesday, January 22, 2008

Balada dos Doutores X

Atendendo a que 75 por cento dos 3 122 ex-bolseiros se encontravam a desenvolver actividade profissional (desta vez excluindo os bolseiros de pós-doutoramento), veja-se o que acontece em cada área científica, relativamente ao total de ex-bolseiros dessa área. 1.ª ET: 83 % (673 / 807  100); 2.ª CAV: 82 % (141 / 171  100); 3.ª CSH: 81 % (467 / 579  100); 4.ª CE: 71 %; 5.ª CN: 67 %; e 6.ª CS: 64 %. Isto é, a ET continua a liderar com a mais alta percentagem de ex-bolseiros a desenvolver actividade profissional, logo seguida da CAV e CSH, todas com valores superiores à média de 75 por cento. Interessante também o facto de a CAV, com o menor número de ex-bolseiros, ter a segunda maior percentagem de ex-bolseiros a desenvolver actividade profissional. Das três áreas com aproximadamente o mesmo número de ex-bolseiros, as CSH estão agora numa posição de relativo destaque, com uma percentagem de ex-bolseiros a desenvolver actividade profissional bastante mais expressiva que as outras duas, CE e CN. As CS não só não tiveram muitos bolseiros como têm a menor percentagem de ex-bolseiros a desenvolver actividade profissional.

Monday, January 21, 2008

Balada dos Doutores XI

Por qualquer razão que se desconhece, mas que haverá, por certo, quem não tenha dificuldade em explicar, são precisamente as CS que têm a mais elevada percentagem de ex-bolseiros com bolsas de pós-doutoramento, algo acima da média de 14 por cento. 1.ª CS: 17 % (64 / 372  100); 2.ª CN: 16 % (96 / 594  100); 3.ª CE: 16 %; 4.ª ET: 6 %; 5.ª CAV: 6 %; e 6.ª CSH: 3 %. As CN e CE, embora tenham trocado de posições, em benefício das CN, têm, aproximadamente a mesma percentagem de ex-bolseiros com bolsas de pós-doutoramento. As ET é que têm uma relativamente pequena percentagem de ex-bolseiros com bolsas de pós-doutoramento, principalmente quando comparada com o facto de ser a área com um número e percentagem muito mais elevada de ex-bolseiros. As CAV não só têm poucos ex-bolseiros, como também uma percentagem de pós-doutoramentos inferior à média, da ordem de grandeza das ET. A contrastar com as CS, estão as CSH, também muito desfavorecida em relação às CN e CE, das quais se aproximava em número de ex-bolseiros. As CSH têm uma pequeníssima percentagem de ex-bolseiros com bolsas de pós-doutoramento, a menor de todas as áreas científicas.

Sunday, January 20, 2008

Balada dos Doutores XII

Mesmo assim, a posição de cada área, em termos da percentagem dos seus ex-bolseiros a não exercer qualquer actividade profissional é ainda diversa. As ET, com a mais alta percentagem de ex-bolseiros a desenvolver actividade profissional, apesar da baixa percentagem de pós-doutoramentos tem a menor percentagem de ex-bolseiros a não exercer qualquer actividade profissional. 1.ª ET: 10 % (85 / 807  100); 2.ª CAV: 12 % (20 / 171  100); 3.ª CE: 13 %; 4.ª CSH: 16 %; 5.ª CN: 17 %; e 6.ª CS: 18 %. O mesmo acontece com as CAV que ficam ainda um pouco abaixo da média de 14 por cento. As CSH foram talvez as mais afectadas pela baixa percentagem de ex-bolseiros com bolsas de pós-doutoramento. Quanto às CN e ainda mais as CS, apesar da alta percentagem de ex-bolseiros com bolsas de pós-doutoramento, não só têm as mais baixas percentagens de ex-bolseiros a desenvolver actividade profissional, como também as mais altas percentagens de ex-bolseiros a não exercer qualquer actividade profissional, situação particularmente notória nas CS.

Saturday, January 19, 2008

Balada dos Doutores XIII

A análise de cada área científica relativamente ao seu quinhão em cada uma das três situações dos ex-bolseiros reforça, esclarecendo um pouco mais o que já se viu. As ET, com os seus 26 por cento de ex-bolseiros, têm 29 por cento (673 / 2 347  100) dos ex-bolseiros a desenvolverem actividade profissional. Pois apesar de uns modestos 15 por cento (49 / 330  100) de ex-bolseiros com bolsas de pós-doutoramento, comparados com os 26 por cento de ex-bolseiros, consegue ter a maior redução percentual, desses 26 para 19 por cento (85 / 445  100) do total de ex-bolseiros a não exercer qualquer actividade profissional. Situação oposta é a das CN que, com uns confortáveis 19 por cento de ex-bolseiros, tem somente 17 por cento (398 / 2 347  100) dos ex-bolseiros a desenvolverem actividade profissional. Nem com uns expressivos 29 por cento (96 / 330  100) de ex-bolseiros com bolsas de pós-doutoramento, comparados com os 19 por cento de ex-bolseiros, consegue obviar a que tenha o maior aumento percentual, desses 19 para 22 por cento (100 / 445  100) do total de ex-bolseiros a não exercer qualquer actividade profissional, sendo, ao mesmo tempo a área com maior valor percentual desses ex-bolseiros.

Friday, January 18, 2008

Balada dos Doutores XIV

Os valores ordenados das melhorias e decréscimos em percentagem de ex-bolseiros que desenvolvem actividade profissional, em relação à percentagem de bolseiros, já referida acima, dessa mesma área, são os seguintes. 1.ª ET: 29 % (673 / 2 347  100) vs 26 %; 2.ª CSH: 20 % (467 / 2 347  100) vs 19 %; 3.ª CAV: 6 % vs 6 %; 4.ª CE: 18 % vs 19 %; 5.ª CS: 10 % vs 12 %; e 6.ª CN: 18 % vs 19 %.

Os valores ordenados das melhorias e decréscimos em percentagem de ex-bolseiros com bolsas de pós-doutoramento, em relação à percentagem de bolseiros, já referida acima, dessa mesma área, são os seguintes. 1.ª CN: 29 % (96 / 330  100) vs 19 %; 2.ª CE: 28 % (93 / 330  100) vs 19 %; 3.ª CS: 19 % vs 12 %; 4.ª CAV: 3 % vs 6 %; 5.ª ET: 15 % vs 26 %; e 6.ª CSH: 5 % vs 19 %.

Os valores ordenados dos decréscimos e aumentos em percentagem de ex-bolseiros que não desenvolvem qualquer actividade profissional, em relação à percentagem de bolseiros, já referida acima, dessa mesma área, são os seguintes. 1.ª ET: 19 % (85 / 445  100) vs 26 %; 2.ª CE: 18 % (78 / 445  100) vs 19 %; 3.ª CAV: 5 % vs 6 %; 4.ª CSH: 21 % vs 19 %; 5.ª CS: 15 % vs 12 %; e 6.ª CN: 22 % vs 19 %.

Thursday, January 17, 2008

Balada dos Doutores XV

O documento de 2006, que se tem vindo a analisar, conclui, sem conclusão, com o Quadro 3.2.5.2. Este quadro contém mais uma informação sobre o desemprego dos ex-bolseiros, mas deve ser observado com um cuidado ao qual as autoras não dão a menor atenção no texto. É que enquanto o restante trabalho se refere a um universo de 3 122 ex-bolseiros, o Quadro 3.2.5.2 refere-se a um número menor de ex-bolseiros, que não se pode precisar. De qualquer modo, dos 555 ex-bolseiros de doutoramento da FCT que se encontravam desempregados antes da bolsa, 157, ou seja 28 por cento, «mantêm-se desempregados», depois do período da bolsa de doutoramento. Não se sabe o significado exacto de «mantêm-se desempregados», mas pelo ano de fim da bolsa de doutoramento e de lançamento do inquérito, no ano seguinte, é fácil concluir que se trata de pessoas desempregadas há longos meses.

Wednesday, January 16, 2008

Balada dos Doutores XVI

Os bolseiros pós-doutoramento, ali tratados como ex-bolseiros a desenvolverem actividade profissional, aqui estritamente como tal, são pessoas com ocupação precária dedicadas ao progresso da ciência em Portugal e arredores, da humanidade e do aquecimento global ou simplesmente conscientes da importância do dever. Dever a casa, o carro, a mercearia, os livros da escola dos filhos, aos médicos, à farmácia, à família e aos amigos mais chegados. Umas centenas de ingénuos e bem intencionados que, seduzidos pela miragem de um futuro brilhante, se vêm atirados para a legião dos desempregados, uma turbamulta de cerca de meio milhão, onde vão ocupar o escalão mais baixo: o daqueles que não têm direito a subsídio de desemprego, nem muitos outros benefícios sociais. Será por isso que os centros de emprego registam 63 ou 64 doutorados inscritos como desempregados? Quantos estão no sub-emprego das bolsas, dos recibos verdes, traduções, aulas a metro ou explicações? Que razões levarão um doutorado desempregado a inscrever-se num centro de emprego? A esperança de lá ser encontrado por um potencial empregador à procura de pessoal qualificado para o programa de investigação da sua empresa? Ou o contentamento de ver, divulgados publicamente, o seu Nome, Nacionalidade, Data de Nascimento, Sexo, Habilitações Escolares, Área Formação Escolar, Ano de Conclusão dos Estudos, Classificação Final, Estabelecimento de Ensino, Endereço, Localidade, Código Postal, Freguesia, Concelho, Telefone, Telemóvel, Email, Empresas onde Trabalhou, Data Início, Data Fim, Observações, Formação Profissional, Área de Formação, Entidade, Tempo do Curso (horas), Situação Actual, Pretende trabalhar a tempo, Disponibilidade para viajar, Regiões onde pretende trabalhar, Conhecimentos Linguísticos, Idioma, Oralidade, Escrita e Leitura?

Tuesday, January 15, 2008

Balada dos Doutores XVII

Há quem emigre. O Jornal de Negócios, de Nov. 5, refere, extensivamente, o trabalho da doutora Ana Delicado (por coincidência, bolseira pós-doutoramento). São mais de 800, a maioria dos quais no Reino Unido e EUA, mais de um terço sem data de regresso a Portugal, um quarto «obrigados» a emigrar pela dificuldade em encontrar emprego científico em Portugal, apesar de um terço afirmar que é difícil encontrar emprego científico no estrangeiro. À cabeça desta emigração, estão a Universidade de Lisboa e a Universidade Técnica de Lisboa, a «casa» do Instituto Superior Técnico. Como o actual MCTES preconiza que se diga, «nestas duas universidades licenciaram-se mais de metade dos investigadores portugueses doutorados a trabalhar no estrangeiro», o que atesta bem o esforço que estas duas instituições têm feito para projectar o nome de Portugal internacionalmente. Não há nada que não tenha o seu aspecto positivo.

Monday, January 14, 2008

Balada dos Doutores XVIII

Que se saiba, destas tragédias pessoais e vergonha nacional ainda ninguém foi chamado a prestar contas. Ao Ministro da Ciência e da Tecnologia de então, José Mariano Rebelo Pires Gago, foram dados ainda mais poderes no actual governo. As organizações em peso lutam por um lugar mais alto nas classificações internacionais. Os departamentos e centros de investigação prosseguem na sua interminável jornada da excelência. Os professores continuam a singrar na carreira, graças às orientações de doutoramentos e pós-doutoramentos, às publicações científicas elaboradas pelos orientandos ou com base no trabalho «orientado». Quanto valem todos estes progressos e glórias, mesmo se obtidos à custa do mexilhão, dos bolseiros? Resta-nos a certeza de que entre as primeiras prioridades do actual governo está a avaliação do Programa CIÊNCIA de Formação Avançada de Recursos Humanos em C&T e da FCT.

Sunday, January 13, 2008

Balada dos Doutores XIX

Será que os desequilíbrios hoje verificados na formação de doutorados no País se deve, essencialmente, ao acumular de anos de más políticas de investigação, da proliferação de doutoramentos desajustados da realidade e da limitação de doutoramentos em determinadas áreas, favorecendo outras, porventura menos necessárias para a saúde do nosso tecido empresarial e produtivo? Será esse desequilíbrio provocado pelos responsáveis da investigação, pelos Governos, que optam por uma política que provoca limitações ao acesso e ao doutoramento em certas áreas, empurrando os doutorandos para outras? Será provocado por decisões pouco ponderadas de oferta de doutoramentos sem olhar às necessidades do país, empurrando agora essa responsabilidade para as instituições de ensino superior? Será esse desequilíbrio provocado pela falta de formação de profissionais e de doutorados em diversas áreas, pelo desmantelamento aparelho produtivo, da investigação e de outros vectores essenciais para o desenvolvimento e para o emprego? Como têm os governos tentado corrigir esse desequilíbrio? Permitindo a diminuição acentuada de postos de trabalho, principalmente no que toca a trabalho com direitos e vínculos contratuais? Abdicando de adaptar as instituições de investigação às reais necessidades do país e de cuidar o tecido empresarial e produtivo português? Desaproveitando a maximização do capital humano do país e deixando o seu ajustamento às regras do mercado de trabalho? Deixando ser o mercado de trabalho a condicionar e a ditar o rumo do país em matéria de formação dos seus doutores? Entendendo que cabe aos candidatos a doutoramento optarem pelas áreas de maior emprego, bastando-lhes saberem quais as que garantem futuro emprego? Deixando o mercado funcionar e esperar que a mão invisível venha intervir nas injustiças? Deixando que exista uma classificação das instituições de investigação, não um com base na sua qualidade, não com base na sua capacidade científica, mas tendo como base a absorção que o mercado de trabalho faz dos doutorados provenientes dessas instituições? É a essas instituições que cabe a responsabilidade de dar uma resposta especialmente dedicada aos caprichos do mercado de trabalho ou cabe também ao Estado intervir na regulação do mercado de trabalho e na criação de alternativas para o emprego?


Os meus maiores agradecimentos à doutora Ana Delicado do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa pelas suas contribuições para a elaboração deste texto.

Saturday, January 12, 2008

Balada dos Doutores P. S. 1

Programa do XVII Governo Constitucional
Apresentado na Assembleia da República, em 21 de Março de 2005,
por José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa

CAPÍTULO I
UMA ESTRATÉGIA DE CRESCIMENTO PARA A PRÓXIMA DÉCADA

II. Um Plano Tecnológico para uma agenda de crescimento

3. Vencer o atraso científico e tecnológico
[...]
Assim, assumimos como principais metas para esta legislatura:

* Triplicar o esforço privado em I&D empresarial (que hoje não ultrapassa 0, 26% do PIB), criando as condições de estímulo necessárias;
[Não importa o objecto dessa I&D, qualquer uma serve]

* Triplicar o número de patentes registadas;
[Não importa o que for patenteado, o que é preciso é patentear]

* Duplicar o investimento público em I&D, de forma a que atinja 1% do PIB;
[Não importa em que se vai investir, o que é preciso é investir]

* Fazer crescer em 50% os recursos humanos em I&D e a produção científica referenciada internacionalmente. Fazer crescer para 1500 por ano o número de doutoramentos em Portugal e no estrangeiro;
[Não importa em que áreas é que os recursos humanos em I&D, a produção científica referenciada internacionalmente e o doutoramentos vão crescer, o que é preciso é que cresçam]

* Estimular o emprego científico no sector público e privado. O Estado promoverá a criação e o preenchimento progressivo, de forma competitiva, de 1000 lugares adicionais para I&D, por contrapartida da extinção do número necessário de lugares menos qualificados noutros sectores da Administração;
[Não importa em que áreas é esse emprego, o que é preciso é empregar]

* Tornar obrigatória a prática experimental em disciplinas científicas e técnicas no Ensino Básico e Secundário;

* Organizar capacidades científicas e técnicas para a minimização e prevenção de riscos públicos, a segurança do País e o reforço das instituições reguladoras e de vigilância.
[...]

Friday, January 11, 2008

Balada dos Doutores P. S. 2

A importância das estatísticas vs. a importâncias das necessidades

II. Portugal no Processo de Benchmarking Europeu – Indicadores. Página Oficial da Presidência da República Portuguesa. (s. d.)

Marques, Alexandra - Em 2009 Portugal irá produzir 1500 doutorados por ano. Jornal de Notícias (28 Out. 2007)

Cabral, Manuel Caldeira - Fuga de cérebros e asfixia financeira das universidades. Jornal de Negócios (7 Set. 2007)

Silva, Filipa - Aumentam os doutores made in Portugal. Canal UP (3 Ago. 2007)

Política de Formação Avançada e Qualificação de Recursos Humanos. Bolsas de Formação Avançada. Lisboa: Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. (s. d.)

Marques, Nelson - Como sobreviver a um doutoramento? Guia do Estudante. 2007.

Mendiratta, Maya - E depois do adeus - «Scientistsí gap year?» Conta Natura (9 Mai. 2006)

ABIC - FCT apoia Inserção de Doutorados Residentes no Estrangeiro? Fórum dos Bolseiros. 2005.

Conselho dos Laboratórios Associados - O emprego científico em Portugal: alguns factos. 2004.