Monday, March 31, 2008

Actualidades I.31. Tipos de Universidade

ALBERTO RALHA – As Universidades portuguesas, em face dos diferentes tipos institucionais de Universidade. In «A Universidade na Vida Portuguesa». Lisboa: Gabinete de Investigações Sociais, 1969. Vol. 1, p. 99-126.

Excertos:

As estruturas do ensino superior actualmente em uso estão relacionadas com três ou quatro tipos distintos Universidades que, de maneira mais ou menos acentuada, influenciaram as diversas unidades universitárias hoje existentes:

a) Universidades de «Colleges», tipo Oxbridge (maneira de indicar abreviadamente as velhas universidades de Oxford e Cambridge), com alunos vivendo em «comunidade»;

b) Universidades de Faculdades, dividas em cátedras, reminiscência da reforma napoleónica da Universidade Francesa;

c) Universidades de tipo alemão, estruturadas em Institutos científicos independentes, com a característica dominante de dar prioridade à investigação;

d) Universidades americanas de departamentos, herdeiras das tradições britânicas e alemãs, mas que se individualizaram por terem adquirido características próprias. (p. 107).

Sunday, March 30, 2008

Actualidades I.32. Junior Colleges

Os dois primeiros anos dos estudos superiores [nos EUA] são frequentados nos Junior Colleges, instituição que foi criada com o fim de fazer face à avalanche de alunos que acorre às universidades. Deste modo, os alunos podem cursas a primeira parte dos estudos, próximo dos seus lares e com menor despesa. Por outro lado, os Junior Colleges têm ainda outra função, pois dão uma preparação de certo modo completa, embora curta, para os alunos que interrompam os estudos nessa fase. (p. 113).

Saturday, March 29, 2008

Actualidades I.33. Evolução e Progresso

Por outro lado, a rápida evolução da ciência origina novas relações entre matérias antes consideradas bem distanciadas, surgindo entre elas novas disciplinas. Tal facto justifica a necessidade de um constante evoluir da Universidade – no sentido horizontal – pela inclusão de novas disciplinas nos seus programas. O mesmo fenómeno leva a fazer progredir a Universidade – em sentido vertical – por meio da criação de cursos pós-graduados e núcleos de investigação, os quais, cada vez mais, vão tendo características inter ou pluridisciplinasres. (p. 115-116).

Friday, March 28, 2008

Actualidades I.34. Universidades para um País Rico

Há vinte anos, somente os países ricos se podiam dar ao luxo de ter boas Universidades; hoje a situação inverteu-se e só poderão ser ricos os que as tiverem. (p. 116).

Thursday, March 27, 2008

Actualidades I.35. Tendências Actuais

DIAS AGUDO, F. R. – As Universidades portuguesas e a investigação científica e técnica. In «A Universidade na Vida Portuguesa». Lisboa: Gabinete de Investigações Sociais, 1969. Vol. 1, p. 127-146.

Excertos:

Como regra, a investigação actual passou a desenvolver-se em grupo, dentro de uma área definida, a priori, em função da sua utilidade para o bem-estar da sociedade. Dada a crescente percentagem do Produto Nacional Bruto que os Governos estão a dedicar à Investigação e Desenvolvimento, as nações têm o direito de exigir de que a actividade científica de muitos dos seus investigadores seja posta ao serviço do progresso económico e social das populações. Mas, ao mesmo tempo que deve chamar-se a atenção dos cientistas para os projectos com maior probabilidade de contribuírem para esse progresso (interessando-os nos problemas a resolver por meio de subsídios de investigação, por exemplo), não deve coarctar-se a sua liberdade intelectual, o seu espírito de iniciativa, pois só num clima de liberdade se pode desenvolver o espírito criador indispensável a toda a investigação. E é também de toda a vantagem que continue a haver cientistas que se preocupem com a investigação pura, independente de qualquer aplicação em perspectiva, pois «a maneira mais segura de limitar a utilidade da ciência é insistir em que apenas se devem realizar os estudos com significado prático óbvio e imediato» (Engstrom, 1967, p. 77). Além disso, é cada vez mais difícil distinguir entre investigação fundamental e investigação aplicada(1) e muitas vezes a distinção reside apenas no espírito do próprio investigador e não na natureza do trabalho ou nas técnicas a utilizar.

Outro aspecto da investigação científica actual, resultante do grau de complexidade que atingem os problemas a resolver, é o seu carácter interdisciplinar: surgem campos de estudo na fronteira de duas ou mais disciplinas, como a bioquímica, a biofísica, a bioengenharia, a biologia molecular; têm de trabalhar lado a lado cientistas e engenheiros com diferente formação(2); é-se muitas vezes obrigado à aquisição de material altamente dispendioso e o grande volume de verbas a despender constitui, afinal, a principal razão por que se torna necessário planear cuidadosamente o esforço científico, não só de cada país, mas muitas vezes mesmo à escala internacional.

Assinala-se, por último, e também como resultado das somas elevadas que hoje destinam a I & D os países economicamente mais desenvolvidos, a participação da ciência e da técnica na própria governação pública, com numerosos cientistas e engenheiros envolvidos na formulação da política a vário níveis da administração.


(1) Segundo as normas da OCDE chama-se investigação ao conjunto de trabalhos empreendidos essencialmente com o fim de alargar os limites do conhecimento científico, sem ter em vista nenhuma aplicação prática específica (inv. fundamental) ou tendo como objectivo uma aplicação prática específica (inv. aplicada). E dá-se o nome de desenvolvimento à utilização dos resultados da inv. fundamental e aplicada para colocar em uso novos materiais, dispositivos, produtos, sistemas e processos, ou para melhorar os que já existem. A investigação fundamental ainda se classifica muitas vezes em livre (ou pura) e orientada. As actividades de investigação e desenvolvimento são designadas abreviadamente por I & D. Ver também (UNESCO).

(2) Vem a propósito referir que na preparação de futuros investigadores não é necessário nem convém fixar rigidamente todas as cadeiras que eles devem frequentar nos seus cursos superiores; deve antes atender-se à possibilidade de transferência entre domínios científicos, à facilidade com que pessoas altamente treinadas se podem mover de um campo para outro. Nada impede, por exemplo, que um bom cientista venha a tornar-se um óptimo engenheiro se resolver interessar-se por problemas tecnológicos: não era Charles Steinmetz o fundador dos Laboratórios da General Electric um matemático, com uma tese de doutoramento sobre assunto de geometeria? E não se pode considerar Fermi, o grande físico italiano, como o responsável por notáveis trabalhos de engenharia nuclear?


ENGSTROM, E. W. – Science, technology and statesmanship. American Scientist. Março (1967) 72-79

OCDE – Méthode type proposée pour les enquêtes sur la recherche et le développement (Manuel de Frascati).

UNESCO – Tendances actuelles de la recherche scientifique (P. AUGER).

Wednesday, March 26, 2008

Actualidades I.36. Investigação no Ensino Superior

[…] uma primeira conclusão importante a tirar dos resultados já conhecidos do Ano Estatístico Internacional para a Investigação e Desenvolvimento é que se os países em vias de desenvolvimento se quiserem aproximar das países industrializados, eles terão, não só de aumentar a percentagem do PNB dedicada a I & D (o que seria de esperar), mas também de canalizar para o Ensino Superior uma parte maior das despesas com I & D e tomar medidas que proporcionem um maior intercâmbio entre as Empresas e os restantes sectores na resolução de problemas de investigação científica e tecnológica.

Aliás, estudos anteriores ao Ano Estatístico Internacional haviam mostrado já que os fluxos de ideias entre a Universidade e a Indústria, e entre a Universidade e o Sector Público têm sido muito reduzidos em quase todos os países da Europa. Nalguns tem havido mesmo a tendência para desligar toda a investigação científica de nível mais avançado das universidades e concentrá-la em institutos de investigação separados. Ora, a maior parte dos cientistas e responsáveis pela política científica concorda hoje que esta maneira de proceder tem sido um erro e defende uma maior concentração de actividades de investigação nas universidades e/ou em íntima ligação com elas. Sem esquecer que a investigação fundamental também deve fazer parte integrante da estrutura da investigação nos próprios laboratórios de investigação aplicada e que as universidades não devem alhear-se da investigação aplicada com interesse para o progresso do país, o que importa salientar aqui é que em nenhumas outras instituições a investigação fundamental terá ambiente tão apropriado como nas universidades, dada a presença de numerosos estudantes interessados na pesquisa (quando existam os necessários curso os para pós-graduados) e dos quais deverá sair o escol de investigadores para o respectivo país. (p. 132).

Tuesday, March 25, 2008

Actualidades I.37. Binómio Ensino-Investigação

Reconhece-se hoje que a investigação nas universidades tem de desempenhar um papel muito especial em toda a problemática da investigação, não só porque aí se devem formar os investigadores cada vez mais necessários nos outros sectores, mas também porque a qualidade da pesquisa universitária virá a condicionar o nível de todo o ensino que se ministra nas escolas superiores. Ao contrário da educação tradicional, que se considerava acabada no fim dos estudos universitários, vivemos hoje na era da educação permanente, e é imprescindível desenvolver nos estudantes a capacidade para aprender, o gosto pela inovação. Nos mais altos níveis do saber, a investigação e o ensino são indissociáveis, reforçam-se mutuamente de diversas formas e cada um deles enfraquece-se apreciavelmente se não for alimentado pelo outro: «são como que dois pólos de um mesmo magnete». Por isso mesmo é desejável que o pessoal docente universitário trabalhe em regime de tempo completo e possa dedicar grande parte da sua actividade à investigação científica e que as universidades estejam em condições de financiar, pelos seus fundos ordinários, os meios fundamentais do ensino e da investigação, incluindo os que dizem respeito aos cursos para pós-graduados. Ora um dos grandes males das universidades europeias é não estarem preparadas para esta união frutuosa entre o ensino e a investigação. A sua estrutura não se tem mostrado nada favorável a certas condições prévias da investigação moderna: o ensino universitário está dividido […], o que prejudica o estudo das matérias mais recentes, nomeadamente as que rompem com a divisão clássica do trabalho científico, e dificulta o desenvolvimento dos domínios cujo futuro é mais prometedor. Enfim, os esforços científicos desenvolvidos na Europa dispersam-se por um certo número de pequenas unidades, de modo que é impossível concentrar fundos suficientes para empreender um trabalho de grande envergadura num dado centro. Parece mesmo que a diferença de estrutura entre as universidades europeias (com a possível excepção do Reino Unido) e as americanas (que foram constituídas sob a forma de organismos autónomos, mesmo no caso das universidades estaduais) tem sido uma das principais causas da fuga de cientistas para os E. U. e pelo desnível que se verifica hoje entre os dois continentes no plano científico e tecnológico. (p. 132 e 134).

Monday, March 24, 2008

Actualidades I.38. Remédio

Como remediar a situação? Criando universidades de tipo novo, como se está a fazer nalguns países da Europa e em que o Departamento (ou o Instituto) substitui a cátedra? Esta medida, que será muito importante, não produzirá, no entanto, os efeitos desejados se não for acompanhada do revigoramento das universidades existentes, pois «nem a eficácia, nem a maleabilidade, nem o espírito empreendedor das novas unidades garantirão que elas possam transformar à sua imagem os sistemas estabelecidos. A experiência mostra, pelo contrário, que as instituições de vanguarda acabam, ao fim de certo tempo, por se adaptar ao conservantismo ambiente. O único meio de impedir esta evolução será abrir os diversos sistemas nacionais às correntes de permuta e à mobilidade internacional». (p. 135).

Sunday, March 23, 2008

Actualidades I.39. Constituição Universitária de 1911

A reforma de 1911, notável para a época, dava grandes esperanças ao estabelecimento, entre nós, do espírito científico que se adquire através da investigação. Segundo [a Constituição Universitária] de 1911, a universidade teria, com efeito, um tríplice fim:

i) «Fazer progredir a ciência pelo trabalho dos seus mestres, e iniciar um escol de estudantes nos métodos da descoberta e investigação científica».

ii) «Misturar o ensino geral das ciências e suas aplicações, dando a preparação indispensável às carreiras que exigem uma habilitação científica e técnica».

iii) «Promover o estudo metódico dos problemas nacionais e difundir a alta cultura na massa da Nação pelos métodos de extensão universitária». (p. 135).

DECRETO-LEI de 19 de Abril de 1911. D.G., 93 (11-04-22)

Saturday, March 22, 2008

Actualidades I.40. Sem Qualquer Coordenação

Em 1929 voltou nova esperança com a criação da Junta de Educação Nacional, hoje Instituto da Alta Cultura. O Instituto tem procurado dar o seu estímulo à investigação científica no País, criando vários centros de estudo e enviando numerosos bolseiros para o estrangeiro; mas também agora não devemos esconder que o proveito da sua acção teria sido bem maior se, simultaneamente, se tivessem remodelado as estruturas universitárias. Tal como na maior parte dos países europeus, «a política científica e do ensino superior tem consistido em adicionar, de tempos a tempos, novas estruturas às instituições existentes. Gravitando em torno destas, sob formas diversas e variáveis, os organismos de investigação e de formação têm-se multiplicado sem qualquer coordenação». As escolas superiores estão organizadas como compartimentos demasiado estanques, com ligações quase nulas entre Faculdades da mesma Universidade e fracas conexões, mesmo entre secções diferentes da mesma escola; e os núcleos de investigação estão de tal modo fragmentados que entre os Laboratórios, Museus, Observatórios, Institutos e Cadeiras das várias escolas superiores científicas e técnicas, Centros de Estudo patrocinados pelo I. A. C. e Agrupamentos científicos subsidiados pela Junta de Investigações do Ultramar, anexos a essas escolas, há cerca de uma centena que fazem investigações científicas, mas mais de metade possui apenas 1 ou 2 investigadores em equivalência a tempo completo.

Friday, March 21, 2008

Actualidades I.41. Verbas para Investigação

[…] para melhorar a eficiência da investigação ligada ao ensino superior devem as Universidades ter autonomia financeira para gerir os fundos necessários ao ensino e investigação, inclusivamente os que dizem respeito aos cursos para pós-graduados (e com uma fracção aproximada de 1/3 para trabalhos de investigação).

Ora, entre nós são baixíssimas as verbas atribuídas no Orçamento Geral do Estado às Escolas Superiores e mínimas as que se destinam à investigação. […] mesmo levando em conta os fundos não provenientes do orçamento ordinário das escolas (subsídios concedidos pelo I. A. C., J. I. U., Fundação Calouste Gulbenkian, OTAN), a verba gasta pelas escolas superiores científicas e técnicas com cada aluno inscrito em 1963/64 andou pelos 9 contos e a parte da verba total despendida com a investigação no foi além de 20%! Além disso, como noutros lugares sucede, «as rubricas orçamentais estão estabelecidas por tradição e definidas com uma antecedência de alguns meses; e como é óbvio que nenhum laboratório pode prever com tanta antecedência as suas necessidades exactas e pormenorizadas, esta maneira de proceder actua directamente contra o crescimento da ciência…; como ninguém quer que o surpreendam a devolver fundos aos cofres do Estado, é inevitável que no fim do ano se produza um certo número de compras desordenadas para gastar até ao último centavo o que ainda não fora despendido em cada uma das rubricas orçamentais». (p. 140-141).

Thursday, March 20, 2008

Actualidades I.42. Falta de Pessoal Técnico

Outra limitação, e bem séria, ao desenvolvimento com eficiência dos trabalhos de pesquisa nas universidades reside na falta de pessoal técnico auxiliar.

A relação entre o número de técnicos e de investigadores (em equivalência a tempo completo) era, em média, de 0,6 em 1964, variando um pouco de escola para escola. A relação óptima depende, evidentemente, do tipo de investigação e do sector, citando se muitas vezes 1,5 como valor aconselhável. Para o ensino superior a relação era, em França, em 1963, igual a 0,85, mas o grupo de trabalho encarregado das previsões para o V Plano (1966/70) considerou desejável o valor 2 para as Ciências exactas e naturais e 1,5 para as Ciências médicas. (p. 141).

Lisboa, Julho de 1967.

Wednesday, March 19, 2008

Actualidades I.43. Ensinar, à Altura do Nosso Tempo

PINA PRATA, Francisco Xavier – A transformação dos métodos pedagógicos no moderno Ensino Superior. In «A Universidade na Vida Portuguesa». Lisboa: Gabinete de Investigações Sociais, 1969. Vol. 1, p. 163-212.

Excertos:

A reflexão teórica e as «práticas» de nível universitário, que resultam das possibilidades do nosso tempo e que, simultaneamente, são postuladas pelas necessidades específicas de hoje constituem o que frequentemente se chama «moderno ensino superior».

Por seu turno, este ensino, cuja acepção tende a englobar aquilo que vai sendo ministrado nas Universidades sem se lhe restringir, implica já a revisão e adopção de novos métodos que lhe sejam adequados.

Assim, falar na transformação dos métodos é referirmo-nos sistematicamente a um ensino em transformação também.

Isto melhor se vê quando, em vez de empregarmos o substantivo, nos servimos do verbo: ensinar, à altura do nosso tempo, implica, para além das modificações do conteúdo de um programa mais ajustado às ideias e factos da investigação científica e do pensamento e cultura actuais, uma relacionação nova entre professores e alunos. […] E porque os métodos pedagógicos consistem, em última análise, num sistema particular de relações, as mudanças mais ou menos acentuadas daqueles apontam transformações de profundidade diversa no campo da relacionação psicopedagógica, e vice-versa.

Se, no ensino, a transformação dos métodos reveste formas que pressentimos bruscas e que sentimos quase radicais, não se nos afigura que seja tanto devido à natureza de um conteúdo a transmitir ou de técnicas inovadoras, mas, sobretudo, ao facto de nos encontrarmos numa sociedade empenhada na reestruturação de novos modelos sócio-económicos e de padrões renovados de aculturação. Esta sociedade, quer se chame industrial, quer seja a da época da cibernética, ficará marcada não tanto pelo uso dos computadores, como pelo acesso de um número muito maior de indivíduos a um nível de vida mais humanizado, a um campo mais vasto de conhecimentos e de técnicas (do saber e do poder fazer), a moldes sociais da convívio fundados numa participação crescente em tarefas comuns.

São as exigências deste novo tipo de sociedade, em que nos inscrevemos e que vamos instaurando, e a falta de previsão e preparação em lhes dar resposta, que originaram o que em muitos países se denomina a «crise universitária». Pode ser vista esta «crise» como um estado de desequilíbrio entre as funções que a vida de hoje postula que sejam desempenhadas pela Universidade e os limites com que esta se vê a braços para ocupar tal lugar. O grande problema é, pois, o darmo-nos conta do que será a Universidade dos anos que vão rapidamente chegar. Não se trata de uma «crise em si», nem de simples «crise de crescimento». É um mudar arriscado numa sociedade em mutação profunda, com os consequentes receios de diferentes géneros de ruptura, ocasionáveis pela transformação rapidíssima do modo como se nos apresentam e nos rodeiam pessoas e coisas.

Perdemos o pé, porque evolução do clima mental - das «mentalidades», diz-se - não se processa a ritmo correspondente. Passou-se de uma situação normal de equilíbrio instável a um estado de desequilíbrio quase estacionário. (p. 163-165).

Tuesday, March 18, 2008

Actualidades I.44. Problemas de Fundo

[…] os problemas específicos da organização da vida e do trabalho universitários, das múltiplas condições de estudo e dos métodos em que este se integra e que, ao mesmo tempo, o condicionam, […] são tidos e vividos como constituindo os problemas de fundo da «crise».

Respostas isoladas como números isolados não representam o que há de mais significativo para a compreensão da realidade universitária. É na boa correlação das percentagens numéricas e na intersecção dos vários géneros de afirmações, que melhor nos apercebemos do que é problema e das intervenções que se impõem com prioridade.

Que significa, por exemplo, no inquérito aos estudantes das nossas Universidades, que, por um lado, 79,6 % estão satisfeitos com o curso escolhido, quando apenas 0,6 % acham muito bom o ensino universitário do ponto de vista profissional?

Qual o alcance da muito grande importância dada às «relações pessoais» em que a mais elevada percentagem se refere às relações «muito desejáveis» entre professores e alunos da mesma Faculdade = 96,8 %, não obstante apenas 7,9 % (!) julgarem «boas» essas mesmas relações, atingindo 63,0 o número dos que as sentem «deficientes», com resíduo de 0,7 de «sem resposta»?

Que modificar nos hábitos e formas de estudo, se apenas 10,1 % dos estudantes acompanham a matéria em todas as cadeiras, 11,6 consultam frequentemente obras na biblioteca, 13,6 participam habitualmente em colóquios, conferências, etc. relacionadas com o curso e 5,7 realizam, em equipa, trabalhos de curso não obrigatórios (elevando se a 72,7 os que não efectuaram quaisquer trabalhos não só em equipa, mas individualmente)?

Que pode indicar e exigir o facto de 13,3 % decorarem sem perceber e passarem adiante sem resolver as dificuldades, e de aumentar, possivelmente, com os anos a prática de fraude nos exames (1.º e 2.º anos: 53,6; restantes anos: 70,9)?

Que traduz e como remediar a inquietação perante o futuro e o momento actual de uma maioria (48,3, sendo 44,4 os que exprimem «confiança»), para mais quando 42,6 declaram ter preferido nascer noutra época e noutro país?

Que vida afectiva e perfil psicossociológico revela o estudante universitário para quem figura em último lugar, entre «as qualidades morais mais admiradas», as de dinamismo (9,0 %), audácia (5,4 %), eficácia (3,1 %), prudência (2,9 %) e descontracção (2,9 %)?

Como interpretam e vivem, então, a imagem da sociedade de hoje, que nos é apresentada sob o signo do dinamismo, da eficácia, do tempo livre, se aqueles mesmos estudantes admiram antes de mais a sinceridade (45,8), a honradez (41,3) e inteligência (35,3)?

A Universidade tem que estudar a Universidade para compreender mais cabalmente e resolver com práticas mais conformes aos seus objectivos hodiernos esta massa crítica de interrogações. (p. 165-166).

Monday, March 17, 2008

Actualidades I.45. Relacionação Professor - Aluno

[…] se, por vezes, se fala dos «novos métodos» como se fossem tudo e tudo pudessem operar, é talvez porque tanto as «estruturas» universitárias, como o «tempo» universitário, o «conteúdo» dos programas, a possibilidade eficiente de diversificar «níveis» no ensino superior, o controlo dos conhecimentos e do saber-fazer, a rendabilidade do ensino, a própria arquitectura e gestão da Universidade, e no menos o carácter do seu apoio e estímulo intelectuais, morais e cívicos, a responsabilidade dos estudantes, sua «orientação» escolar e profissional, alguns de seus fracassos e abandonos, o ambiente de vida ou sufocação gerador do «clima universitário», tudo tem que ver de certo modo com a forma como se processam as relações:

- Professor – estudante
- Professores – estudantes
- professor – professores
- Direcção – professores – estudantes - organismos universitários
- Universidade - comunidade nacional.

Ora a análise deste sistema de relações parece pôr em evidência, como seu gonzo catalisador, a relacionação psicopedagógica professor - aluno. (p. 168-169).

Sunday, March 16, 2008

Actualidades I.46. Dinâmica e «Suporte» Estruturais

[…] há alguns conceitos que parecem englobar e indicar os fenómenos característicos de certas «padrões culturais». O termo estrutura é daqueles que exprimem com bastante adequação da maneira de ser e de interagir de uma sociedade voltada para a previsão, a organização, o planeamento; para a decisão que procede de escolha entre possibilidades e opções ponderadas, numa palavra, de uma sociedade prospectiva, isto é, que tem de estar muito atenta ao que vem, por se situar num momento da trajectória humana particularmente sensível às necessidades de inovação e adaptação activa; a «prospectiva», embora no seu raciocínio se apoie nas vantagens da extrapolação e nos sistemas analógicos, não funda, ao contrário, da «retrospectiva», a acção a desencadear sobre aquelas.

Não admira, assim, que para alguns governar, planificar, já no é tanto «prever» o que se vai passar ou reflectir sobre isso, mas sobretudo «fazer face ao imprevisto», isto é, abrir e preparar o terreno de novas possibilidades reais.

A «estrutura» supõe esta dupla correlação, donde a ambiguidade que comporta. Não sendo estática, como o têm posto em relevo, sistematicamente, os trabalhos da Psicologia Social, refere-se a duas dimensões interconexas: uma, que chamaremos «de conjunto», outra «de participação»; só ambas constituem a dinâmica estrutural. A dimensão de conjunto implica não apenas uma forma organizada, mas um sistema em que estão a descoberto os diferentes canais, zonas e articulações que o definem como este todo «de-terminado». Trata-se de «estrutura», no sentido estrito, em que o seu dinamismo específico é, por assim dizer, posto entre parêntesis. Uma rede ferroviária, a rede dos edifícios escolares, uma construção metálica, poderiam exemplificar como esta dimensão, melhor, como na nossa hipótese de trabalho de compreensão do sistema educacional, «estrutura» indica, de per si, um quadro programado de certas acções, um «suporte-quase-estável» que favorece ou dificulta determinadas actuações.

Simplesmente, não tem sentido aludir a «estruturas», numa acepção dinâmica, se não se mostrar como elemento integrante o lado dimensional de «aquilo que nelas se passa». Isto significa que falar de uma «estrutura», de «andaimes» que rodeiam um edifício em construção, de uma «rede» ferroviária ou escolar, é definir e estabelecer de antemão que haverá «coisas que se vão passar»: pedreiros, pintores, serventes que não são os «andaimes», mas que são implicados por estes; comboios de mercadorias e de passageiros; alunos que terão tantos quilómetros a andar para chegar a tempo (mesmo com mau tempo), ou que terão tempo, quando aos demais faltar, por viverem ao lado da escola; professores que estão instalados na «rede» ou que, pelo menos, têm que ver com as malhas de que é tecida. Este segundo conjunto de acções, embora seja «programável», não se situa no plano anterior da «estrutura-suporte». Tanto assim que vemos «linhas» por onde já não rolam comboios, edifícios onde nada-acontece se não aquilo que lhes vier a acontecer, andaimes que já não são andaimes porque perderam a articulação e são, agora, um montão de «sem vida, até ver». Que sucedeu? Um facto de todos os dias, que nem todos os dias se apalpa, mas que é informante do fenómeno «social» enquanto tal: a esclerose das estruturas. Por isso se nos afigura necessária a distinção que formulámos, embora conduza a uma exigência de atenção reflexiva, como enunciámos.

Ao lado dimensional constituinte de «o que se passa» nas estruturas chamamos textura; as estruturas dinâmicas em que se integra, do ponto de vista do sistema educacional, a dupla dimensão apontada, tendem a ser hoje marcadamente «estruturas de participação».

Podemos compreender que a «dinâmica» em questão resulta e é medida pelo sistema de relações que se instauram entre a «estrutura» (capaz de esclerose) e a «textura» (que sendo força geradora de acção, é igualmente possibilidade de esclerose). Vemos, portanto, como se pode passar de um sistema dinâmico a um sistema inerte, tanto no plano da estrutura, como no da textura. (p. 170-172).

Saturday, March 15, 2008

Actualidades I.47. Especialização e Qualificação

Na sociedade industrial em que nos situamos (e na da cibernética para que nos encaminhamos) o agir tende a alimentar-se constantemente mais de conhecimentos básicos e, simultaneamente, especializados. A especialização requer aptidões (no sentido da «psicotécnica») e orienta se actualmente para profissões de variadíssimo perfil, as quais, aliás, se vão entrecruzando também de modo crescente. A qualificação mede-se pelo grau de aprofundamento com que são explorados esses mesmos conhecimentos, o que permite uma «adaptabilidade» maior ou menor às transformações características da nossa sociedade.

Sendo assim, a especialização e a qualificação posrulam uma formação interdisciplinar, o que nos encaminha para os problemas das «estruturas» orgânicas do ensino (em que o termo «estrutura» continua a ser empregado no seu sentido estrito). Mas, por seu turno, estas podem sê-lo numa acepção que chamaríamos «forte» ou, numa outra, a que reconhecemos já maior «flexibilidade» e que nos aproxima da temática da «textura».

Entram na primeira categoria («forte») os diversos géneros de instituições universitárias em que se ministra o ensino, se procede à formação e à investigação; na segunda, o organigrama do sistema educacional e os planos de estudo.

É compreensível esta graduação, dada a correlação verificada entre «estrutura» e «textura».

A análise dos factos universitários revela que estes, à medida que se afastam dos fenómenos de «estrutura» na sua significação «forte», mais têm a ver com os processos da relacionação psicopedagógica, o permite elaborar uma escala de correlação das diferentes variáveis do ensino universitário e daqueles processos. (p. 173-174).

Friday, March 14, 2008

Actualidades I.48. Nó Górdio da Crise

O estudo de J. Dewey sobre o «interesse e o esforço», sugere como há que tomar a sério na organização dos programas do trabalho universitário, as necessidades latente que habitam os ânimos e a vida dos estudantes; também os professores as sentem - pois, como os estudantes, são testemunhas e «fazedores» do tempo humano constitutivo do Nosso Tempo. Acontece, porém, que altura da vida em que se situa a trajectória vital de uns e de outros faz com que o radares vivenciais de cada um deles registe e reaja a seu modo, e isto ainda consoante a curvar própria de cada tempo histórico.

Pode talvez formular-se uma lei psicosociológica segundo a qual, não obstante os indivíduos não serem empresas cegas de um determinismo sociológico que os arraste em grupo, os «adultos», em período de sua plena actuação sócio-cultural, trazem já em si o caminho latente das soluções, enquanto o grupo dos que se preparam para participarem inteiramente na vida adulta são particularmente sensíveis ao cariz das exigências dos tempos novos. Referimo-nos, mais uma vez, a uma lei-hipótese que pode levar-nos a tomar certas decisões de ordem prática de relevante importância. Na verdade, a ser assim, cabe aos professores prestar uma atenção serena e objectiva ao que se passa no «meio» universitário, estudando-o; auscultar o modo como vibra o sistema racional, consoante a estrutura em que se enquadra, dando nome às necessidades fundas que perpassam pelo corpo discente, e isto intercomunicando com ele; delinear a carta da nova rota; romper caminhos de soluções adequadas ao diagnóstico feito.

Onde está a grande deficiência, para não dizer, o nó górdio da crise: se a uma grande sensibilidade de registo, por parte do vibrátil corpo discente, às formas da problemática em gestação, o corpo docente, não distinguindo nestas senão pouco mais do que movimentos de superfície, não consegue contribuir (por falta de capacidade de maior criação de que devia ser senhor), ao seu delineamento e ao rasgar activo das soluções exigidas pelas formas nascentes, tanto no plano estrutural como no campo da textura das relações. (p. 191-192).

Thursday, March 13, 2008

Actualidades I.49. Estudos em que a Universidade Deve Empenhar-se

Há estudos em que a universidade deve empenhar-se, pois ajudam a redefinir as suas finalidades e a determinar, por sua vez, o alcance das técnicas e seu campo de aplicação: quais os factores exógenos da actual conjuntura; necessidades psicopedagógicas de um ensino que se «massifica» numericamente, e que postula uma licentia docenti (a nossa licenciatura esquece as suas origens psicológicas), cuja preparação cuidada não se deve iludir; que modificações alteraram o contexto das profissões, de forma que, hoje, um engenheiro tem de ser não só um técnico de suas técnicas, mas um chefe e um formador de homens; em que medida o professor tem de ser um especialista da informação e da comunicação, tanto pelo menos como de certo conteúdo teórico ou prático; que estudo realizar para que as novas técnicas não sejam desiquilibrantes; qual a incidência dos audio-visuais, por exemplo, na estruturação afectiva e mesmo psicossomática (não dizem os neurólogos que a vista humana, só por si, «é o ponto de partida de quase metade das fibras nervosas do nosso sistema sensorial»?) Como organizar o espaço do trabalho universitário, a fim de que seja facilitado o rendimento escolar; qual a oscilação deste nos diversos períodos do dia e quais os factos que nele influem; quais os efeitos mentais da escolaridade; quais as condições físicas que favorecem o estudo; como a dar aplicações a conclusões bastante seguras da psicologia diferencial e psicogenética; como se processa a acção do professor sobre o estudante; em que medida é aquela mais afectada do que se pode julgar por percepções de nível de sócio-emotivo; quais os efeitos de uma educação realizada num meio sem alegria ou gravemente perturbado; consequências psicológicas dos métodos em uso; deve ocupar-se a universidade com a formação in service-training, no decurso da vida profissional, dos «graduados» ou não; em que medida os exames são ersatz de avaliações necessárias, mas que deviam ser feitas em moldes de formação também; objectivos e motivações concernentes à escolha universitária; desenvolvimento do interesse; rever a relação entre as aulas teóricas e os trabalhos práticos; com utilizar as diferentes técnicas e métodos relativamente a múltiplos ciclos, possivelmente com finalidades complementares, mas distintas; confrontação entre os resultados do trabalho de grupo com os de estratégias individuais; como levar à mudança de atitudes (numa sociedade em inovação); quais as exigências do ensino que atropelam as exigências da vida; qual a «idade afectiva» do professor e do estudante, e não apenas os discutidos quocientes intelectuais; como desenvolver a consciência comunitária de um «ensino aberto»; determinações não apenas da taxa global, mas da taxa diferencial da escolaridade, ligada com o «nível» das qualificações dos estudos e as origens sócio-económicas dos estudantes; problemas de orientação escolar e profissional, e muitos outros, que todos eles requerem uma enumeração mais precisa e poderiam ser estudados com uma preocupação não apenas de inovar por inovar, mas de contribuir ao aparecimento de um estado de espírito cheio de incentivos para a existência de uma formação que tivesse o impacte tal, sobre a vida do indivíduo e da sociedade, que lembrasse o dizer de Confúcio: «aos quinze anos, dava-me ao estudo da sabedoria. Aos trinta, firmava-me nela. Aos quarenta, já não tinha dúvidas. Aos cinquenta, apercebi-me da ordem do céu. Aos sessenta, nada havia no mundo que me obcecasse. Aos setenta, podia seguir os desejos de meu coração sem transgredir a lei moral». É que a universidade deve velar não apenas pelo desabrochar intelectual, mas também pelo vigor físico, moral e religioso da «transcendência» - dimensões essenciais da «vida». (p. 192-194).

Wednesday, March 12, 2008

Actualidades I.50. Adaptar os Planos de Estudos

Estes múltiplos estudos são, aliás, sugeridos pelo método de Winnetka, no que toca à necessidade prévia de proceder a inquéritos antes do estabelecimento de programas «comuns-diferenciados» e mesmo do plano de estudos. Lançado por Carleton Washburne, em Winnetka, nos arredores de Chicago, recorreu primeiro, a um inquérito psicopedagógico da população escolar respectiva, durante quatro anos. Só depois, mediante os resultados obtidos, adaptou o plano de estudos ao desenvolvimento intelectual e às aptidões diferenciadas dos alunos, tendo em contra «os conhecimentos e as técnicas indispensáveis que impõe a vida social contemporânea». (p. 194).

Tuesday, March 11, 2008

Actualidades I.51. Flexibilidade

O plano Dalton, além de fornecer ideias acerca da organização do trabalho individual, do bom emprego pessoal do tempo, e sobre as relações entre professores e classe, leva a repensar a elaboração de um sistema de opções, com aulas, programas, classificações, extremamente flexíveis, que responda às necessidades sócio-culturais e aos interesses profissionais de diversos grupos de alunos - sistema facilmente adaptável às características dos anos e dos grupos de estudantes. Recordamos, de passagem, que o fenómeno dos bons e maus anos pertence à meteorologia psicosocial que anda por estudar. (p. 194).

Monday, March 10, 2008

Encontro de «Bloggers» do Ensino Superior - Braga

Já que tenho a fama, o melhor é ter também o proveito: aqui está uma entrada exclusivamente dedicada à divulgação de outros blogs e não só.

Anúncios e prenúncios

02/04 Universidade alternativa: Encontro de «bloggers» do Ensino Superior?

02/10 POLIKÊ?: Encontro de bloggers de IES

02/11 Universidade alternativa: Encontro de «bloggers» de IES: convite à participação

02/20 CO-LABOR: Atenção: Perigo! «os bloguistas sofrem de apneia»

02/22 CO-LABOR: Primeira pedra «10 de Março, 2008»

02/24 Universidade alternativa: Encontro de «Bloggers» do Ensino Superior - Braga08

02/24 POLIKÊ?: Encontro de Bloggers de IES - BRAGA08

03/03 Universidade alternativa: É já de hoje a oito dias: não perca!

03/07 Universidade alternativa: Encontro de «bloggers» de IES - Braga08

03/07 Canal UP - Universidades e Politécnicos: Ensino Superior precisa de bloggers

03/08 POLIKÊ?: Bloggers de Educação Superior

Comentários e previsões

03/10 LIBERDADE NA UMinho: Discutir publicamente a natureza das relações de poder na universidade!

03/10 Que Universidade?: Encontro de "bloggers" de ES - balanço

03/11 Que Universidade?: Palavras sábias

03/11 Empreender: Fazer xixi na tampa da sanita

03/11 CO-LABOR: WHAT ELSE

03/11 Univer Cidade

03/11 Conversamos?!…: em Gualtar…

03/11 POLIKÊ?: vida de ordem n

03/14 Conversamos?!…: humor, sempre…

03/15 ComUM: «É muito perigoso expressar a opinião na blogosfera»

03/16 Oh Não ! É Agora !: As universidades a liberdade e a blogoesfera

03/17 Livre Circulação: «É muito perigoso expressar a opinião na blogosfera»

Vídeos

03/13 Canal UP - Universidades e Politécnicos: Encontro de bloggers na U.Minho - Autores precisam-se

03/13 Canal UP - Universidades e Politécnicos: Encontro de Bloggers do Ensino Superior - Falta estratégia às escolas

Sunday, March 09, 2008

Actualidades I.52. Associações de Estudantes

Tanto o plano Gary como o método Freinet supõem o grave problema do lugar e da ligação do trabalho manual relativamente ao enriquecimento sensório-motor e ao equilíbrio psicofisiológico, às actividades culturais e ao estudo intelectual das matérias; também a vida das associações de estudantes ganharia em ser vista a semelhante luz, não esquecendo a sua inserção na vida social em que situam. (p. 194).

Saturday, March 08, 2008

Actualidades I.53. Grupos de Trabalho

O método dos projectos (the project method) de Kilpatrick, discípulo de Dewey, aproxima-se dos «centros de interesse» de Decroly e dos métodos dos complexos aplicados na Rússia: quer o centro de interesse se desenvolva em torno do plano de trabalhos, de ideias-programas, ou de assuntos-chaves, relacionados com a compreensão concreta sócio-cultural, todas estas técnicas activas, além de visarem a educação moral (self-government), a responsabilização do estudante e o desenvolvimento das suas potencialidades, recordam o papel importante da motivação no «estudo formativo», e experimentam soluções que reagem à compartimentação das matérias, favorecendo a investigação interdisciplinar.

Muito embora estas diferentes técnicas activas revelem a sua multipolaridade no facto da interacção se realizar entre professor e cada-aluno, nos diferentes planos sócio-operacionais do estudo, da sua organização e efectivação, há, ainda, algumas que insistem particularmente na forma de comunicar com os estudantes enquanto grupo, promovendo muito especialmente uma actuação inscrita na perspectiva de grupos de trabalho. (p. 194-195).

Friday, March 07, 2008

Actualidades I.54. Grupo Familiar do Estudante

[…] no plano Iena, de Petersen, os «stammgruppen» de tamanho reduzido (2 ou 3 alunos, sob a orientação de um «líder») aproximam-se já, ao menos pelas suas características externas, de certas finalidades das técnicas-não-directivas, enquanto incidem mais sobre o aspecto da textura da relação do que na exclusividade do conteúdo transmitido; alarga, aliás, a esfera das relações ao grupo familiar do estudante. (p. 195).

Thursday, March 06, 2008

Actualidades I.55. Inserção no Meio Sócio-Profissional

A equipa de Cousinet situa-se na mesma linha de preocupações «activas», tanto no que se refere às actividades de criação como às de aquisição de conhecimento; as cooperativas de Profit podem largamente inspirar acções no sentido de preparar o estudante, através de organismos próprios, para uma boa inserção antecipada no meio sócio-profissional em que actuará. (p. 195).

Wednesday, March 05, 2008

Actualidades I.56. Técnicas de Participação Global

Técnicas modernas, deste tipo, especificamente universitárias, são raras; um caso exemplificativo é o dos grupos trabalho universitário, com a presença de um monitor (que lembrou o advisory de Washburne) e sua ligação estreita com o professor respectivo. Mas a exploração metódica da área sócio-afectiva dos grupos só começou a florescer, na Europa, com o após-guerra, quando grande parte das «técnicas activas em grupo» datam já, pelo menos, do começo do século. As técnicas de participação global, que exploram área sócio-afectiva, não visam, apenas, a educação da inteligência, da vontade consciente, do sentimento (de que não se excluem as dimensões transcendentes do amor e da metafísica, enquanto vertentes integrantes da «vida humana»; estudam e tentam auto-regular o impacto produzido, sobre a própria textura relacional, pelo campo dinâmico do não-formal, do não programado, do não exclusivamente lógico-abstracto (do que nos marca a sensibilidade e a emoção, dá tonalidade às nossas «crenças» e comportamentos, e faz com que as nossas atitudes sejam o que são), breve, de tudo aquilo que nos afecta ao vivermos a vida que é a «nossa vida», mesmo quando é vida-com-os outros. Combinadas com as técnicas dos outros níveis, são as que atingem verdadeiramente os professores e os estudantes na sua totalidade de pessoas, na imbricação das áreas de aculturação, de convívio social e da individualidade, tratando-se, a nosso ver, por essa razão, de técnicas constitutivas de uma participação global.

Inicialmente, pelo menos, estes grupos de criação recente, eram mais acompanhados pelos assistentes, visto terem sido constituídos no contexto dos trabalhos práticos. No entanto, evoluem no sentido de se alargar o âmbito do seu funcionamento, com participação maior dos próprios professores das cadeiras, e de reformulação da correspondência entre aulas teóricas e trabalhos práticos em moldes novos; isto, afinal, porque as técnicas expositivas tendem, como dissemos, a articular-se, para maior eficiência, com a dos outros níveis, [...] (p. 195-196).

Tuesday, March 04, 2008

Actualidades I.57. Sistemas de Comunicação

Às exigências de participação crescente na vida adulta por parte dos estudantes, só pode corresponder um tipo de professor: o professor adulto. «Adulto», na acepção já indicada. Ora sucede que o sistema de comunicação empregado pode fornecer uma imaturidade pessoal afectiva, desequilibrante para os professores ←→ alunos ou, então, facilitar, por assim dizer, o aparecimento de fenómenos regressivos, particulares a fases anteriores do desenvolvimento da personalidade - uma certa infantilização das atitudes acrescentaríamos.

Assim, caso ou sistema relacional é a. ou b., consoante forem a. ou b. as técnicas psicopedagógicas adoptadas, parece ser plausível que, ao estilo adoptado pelo professor, ao nível de «técnicas» que prefere, correspondam tipos de professor, personalidades diferentes. Porém, quem diz possibilidade de transformação de métodos diz, igualmente, possibilidade de modificação de atitudes, tanto da parte dos alunos como dos professores.

Vejamos as implicações de um modelo de comunicação A → B e de outro A ←→ B. (p. 204).

Monday, March 03, 2008

Actualidades I.58. Modelo de Comunicação de A para B

No caso A → B, existe uma economia de tempo; o professor transmite um conteúdo, em que não há « ricochete» de maior sobre o processo de comunicação que instaura. Pode aperceber-se que este ou aquele aluno não segue a exposição (unilateral); poderá corrigir, consoante a reacção que pressente por parte do estudante, um ponto ou outro, mas não há uma interacção que exerça um feedback (ricochete) tão intenso que se ressinta no tempo total de transmissão de informações. É um sistema mais rápido. Também oferece maior segurança ao professor. No é «apanhado de surpresa»; o que preparou é o que diz; às interrogações, se as há, pode facilmente escapar, refugiando-se na continuação da lição.

A este refúgio externo corresponde também um refúgio de prestígio, interno. O sistema A → B tende a fazer do professor aquele que sabe; mais, aquele que deve tudo saber, que detém a verdade. O modelo protege a integridade do seu saber. Mas este refúgio cria um estado de insegurança que leva o professor a entrar no círculo viciado da sua defesa: quanto mais inseguro está, mais nele se entrincheira; quanto mais se entrincheira, mais inseguro se sente e mais necessidade teria de escapar ao estilo fechado do sistema. A segurança, mais externa, duplica-se de uma insegurança mais interna (e vice-versa). O papel do mestre é, então, o do expositor-sábio; as suas funções de criador, portador e dador de valores, de conselheiro, de animador, de catalisador, de formador, passam a segundo plano, avivando-se as de controlo. Psicossocilogicamente, reveste a figura de líder autoritário que transmite-impondo ou que decide transmitir uma informação que, no próprio momento da transmissão, não sofrerá grandes alterações em razão de possível influência externa, como a do aluno que, não compreendendo e o revela, exigiria, talvez, uma modificação, por provisória que fosse, do conteúdo transmitido. O professor ancioso, hesitante, tímido, pretensioso ou não, sem confiança em si ou nas possibilidades dos outros, instalar-se-á com maior facilidade muito perto de um modelo de comunicação semelhante a este, e terá grande dificuldade em adaptar-se a outro, se as circunstâncias o obrigarem a isso. (p. 204-205).

Sunday, March 02, 2008

Actualidades I.59. O Estudante no Modelo de A para B

Neste contexto: a) o estudante é quase só estudante, como se a vida universitária fosse para este a vida sem mais: é o preconceito do «instrucionismo» - que valoriza o conteúdo de um conhecimento registado, cujo expoente mais significativo é o da lição lida; b) há, ainda, o preconceito do «nivelamento»: tudo se comunica como se todos os estudantes fossem intelectualmente iguais, como se as motivações e interesses fossem idênticos, como se o nível de conhecimento e das informações não variassem; c) a segurança-insegurança do didactismo do professor-expositor-autoritário reforça no estudante a necessidade da dependência infantil, obsta ao desenvolvimento das capacidades de decisão e de reflexão; tais atitudes do professor provocam nele o condicionamento afectivo e intelectual. Só nos damos conta, devidamente, de tudo isto, quando procuramos interagir de outra forma, pois, então, se vê que, apesar de todos os protestos de trabalho individualizado e responsável, os estudantes têm uma dificuldade imprevisível em adaptar-se a um modelo de comunicação do tipo A ←→ B e, depois de um primeiro momento de entusiasmo, retomarão as atitudes passivas a que estavam habituados, se o professor não exercerem sobre si próprio uma continua ascese contra a sua auto-suficiência e contra o desânimo face à insuficiente responsabilização do estudante para com o seu trabalho.

Deve, então, lembrar-se o professor de que, ao ensaiar um novo sistema do tipo A ←→ B, ter-se-á que haver com um sem-número de fenómenos de resistência , próprios às situações de mudança . Trata-se de um período transitório, que poderá durar alguns meses.

É que não basta, nem o professor, nem aos estudantes, desejarem mudar o seu sistema relacional. Todos eles vivem numa certa estrutura orgânica educacional que raramente lhes facilita a transformação que prosseguem; isto é tanto mais grave quanto maior for o estado de dependência, de falta de capacidade de decisão, em que se encontrarem.

Mas as estruturas do tipo A ←→ B pesam tanto sobre os sujeitos que nelas se inserem que as experiências de psicossociologia revelam que os estagiários pós-graduados, inseridos nas estruturas do antigo ensino, facilmente retomam os comportamentos de dependência estudantil. (p. 205-206).

Saturday, March 01, 2008

Actualidades I.60. Clareza e Redundância Positiva

Quando recorremos à eficiência deste sistema rápido de comunicação A → B, devemos, pois, assegurar-nos da existência de determinados factores: 1) o da clareza, isto é, que não desconhecemos o código dos nossos «receptores»; que temos em conta o seu quadro de referência e, portanto, as limitações deste; que a nossa linguagem não sofre de qualquer «especialistomania», tornando-a uma charada contínua para quem nos ouve; 2) o da relação hierárquica dos conhecimentos e das práticas: que leva a uma certa redundância positiva da exposição, a um abordar a mesma problemática por múltiplos viés. Acontece, com frequência, nas aulas de matemática, por exemplo, que o professor, em razão dos automatismos simbólicos que possui, desenvolve a sua exposição num ritmo tal que impede, quase por completo, que o estudante alcance esses mesmos automatismos. Daqui resulta, em boa parte, o «grande medo» ou o «grande desdém» pelas matemáticas. O medo e o desdém por alguma matéria ou disciplina, prévios ao contacto com elas tido, origina se, principalmente, em factores de ordem afectiva, mais do que na falta de aptidões especiais ou de condicionantes sócio-familiares. (p. 206-207).