Tuesday, March 18, 2008

Actualidades I.44. Problemas de Fundo

[…] os problemas específicos da organização da vida e do trabalho universitários, das múltiplas condições de estudo e dos métodos em que este se integra e que, ao mesmo tempo, o condicionam, […] são tidos e vividos como constituindo os problemas de fundo da «crise».

Respostas isoladas como números isolados não representam o que há de mais significativo para a compreensão da realidade universitária. É na boa correlação das percentagens numéricas e na intersecção dos vários géneros de afirmações, que melhor nos apercebemos do que é problema e das intervenções que se impõem com prioridade.

Que significa, por exemplo, no inquérito aos estudantes das nossas Universidades, que, por um lado, 79,6 % estão satisfeitos com o curso escolhido, quando apenas 0,6 % acham muito bom o ensino universitário do ponto de vista profissional?

Qual o alcance da muito grande importância dada às «relações pessoais» em que a mais elevada percentagem se refere às relações «muito desejáveis» entre professores e alunos da mesma Faculdade = 96,8 %, não obstante apenas 7,9 % (!) julgarem «boas» essas mesmas relações, atingindo 63,0 o número dos que as sentem «deficientes», com resíduo de 0,7 de «sem resposta»?

Que modificar nos hábitos e formas de estudo, se apenas 10,1 % dos estudantes acompanham a matéria em todas as cadeiras, 11,6 consultam frequentemente obras na biblioteca, 13,6 participam habitualmente em colóquios, conferências, etc. relacionadas com o curso e 5,7 realizam, em equipa, trabalhos de curso não obrigatórios (elevando se a 72,7 os que não efectuaram quaisquer trabalhos não só em equipa, mas individualmente)?

Que pode indicar e exigir o facto de 13,3 % decorarem sem perceber e passarem adiante sem resolver as dificuldades, e de aumentar, possivelmente, com os anos a prática de fraude nos exames (1.º e 2.º anos: 53,6; restantes anos: 70,9)?

Que traduz e como remediar a inquietação perante o futuro e o momento actual de uma maioria (48,3, sendo 44,4 os que exprimem «confiança»), para mais quando 42,6 declaram ter preferido nascer noutra época e noutro país?

Que vida afectiva e perfil psicossociológico revela o estudante universitário para quem figura em último lugar, entre «as qualidades morais mais admiradas», as de dinamismo (9,0 %), audácia (5,4 %), eficácia (3,1 %), prudência (2,9 %) e descontracção (2,9 %)?

Como interpretam e vivem, então, a imagem da sociedade de hoje, que nos é apresentada sob o signo do dinamismo, da eficácia, do tempo livre, se aqueles mesmos estudantes admiram antes de mais a sinceridade (45,8), a honradez (41,3) e inteligência (35,3)?

A Universidade tem que estudar a Universidade para compreender mais cabalmente e resolver com práticas mais conformes aos seus objectivos hodiernos esta massa crítica de interrogações. (p. 165-166).

2 comments:

Alexandre Sousa said...

Pois é Virgílio...

Só reler o parágrafo n.º 5 me causa calafrio. Sabes porquê?
É que aquilo são números verdadeiros.
E não basta que o Xico ou a Maria Guida tenham as salas a abarrotar de alunos que batem palmas às suas lições. É a escola que tem de mudar no seu todo. Doa a quem doer.
Um abraço

Virgílio A. P. Machado said...

O estudo referido tem «só» 40 anos, mas já por aí andam há 700 e tantos anos...