Thursday, March 27, 2008

Actualidades I.35. Tendências Actuais

DIAS AGUDO, F. R. – As Universidades portuguesas e a investigação científica e técnica. In «A Universidade na Vida Portuguesa». Lisboa: Gabinete de Investigações Sociais, 1969. Vol. 1, p. 127-146.

Excertos:

Como regra, a investigação actual passou a desenvolver-se em grupo, dentro de uma área definida, a priori, em função da sua utilidade para o bem-estar da sociedade. Dada a crescente percentagem do Produto Nacional Bruto que os Governos estão a dedicar à Investigação e Desenvolvimento, as nações têm o direito de exigir de que a actividade científica de muitos dos seus investigadores seja posta ao serviço do progresso económico e social das populações. Mas, ao mesmo tempo que deve chamar-se a atenção dos cientistas para os projectos com maior probabilidade de contribuírem para esse progresso (interessando-os nos problemas a resolver por meio de subsídios de investigação, por exemplo), não deve coarctar-se a sua liberdade intelectual, o seu espírito de iniciativa, pois só num clima de liberdade se pode desenvolver o espírito criador indispensável a toda a investigação. E é também de toda a vantagem que continue a haver cientistas que se preocupem com a investigação pura, independente de qualquer aplicação em perspectiva, pois «a maneira mais segura de limitar a utilidade da ciência é insistir em que apenas se devem realizar os estudos com significado prático óbvio e imediato» (Engstrom, 1967, p. 77). Além disso, é cada vez mais difícil distinguir entre investigação fundamental e investigação aplicada(1) e muitas vezes a distinção reside apenas no espírito do próprio investigador e não na natureza do trabalho ou nas técnicas a utilizar.

Outro aspecto da investigação científica actual, resultante do grau de complexidade que atingem os problemas a resolver, é o seu carácter interdisciplinar: surgem campos de estudo na fronteira de duas ou mais disciplinas, como a bioquímica, a biofísica, a bioengenharia, a biologia molecular; têm de trabalhar lado a lado cientistas e engenheiros com diferente formação(2); é-se muitas vezes obrigado à aquisição de material altamente dispendioso e o grande volume de verbas a despender constitui, afinal, a principal razão por que se torna necessário planear cuidadosamente o esforço científico, não só de cada país, mas muitas vezes mesmo à escala internacional.

Assinala-se, por último, e também como resultado das somas elevadas que hoje destinam a I & D os países economicamente mais desenvolvidos, a participação da ciência e da técnica na própria governação pública, com numerosos cientistas e engenheiros envolvidos na formulação da política a vário níveis da administração.


(1) Segundo as normas da OCDE chama-se investigação ao conjunto de trabalhos empreendidos essencialmente com o fim de alargar os limites do conhecimento científico, sem ter em vista nenhuma aplicação prática específica (inv. fundamental) ou tendo como objectivo uma aplicação prática específica (inv. aplicada). E dá-se o nome de desenvolvimento à utilização dos resultados da inv. fundamental e aplicada para colocar em uso novos materiais, dispositivos, produtos, sistemas e processos, ou para melhorar os que já existem. A investigação fundamental ainda se classifica muitas vezes em livre (ou pura) e orientada. As actividades de investigação e desenvolvimento são designadas abreviadamente por I & D. Ver também (UNESCO).

(2) Vem a propósito referir que na preparação de futuros investigadores não é necessário nem convém fixar rigidamente todas as cadeiras que eles devem frequentar nos seus cursos superiores; deve antes atender-se à possibilidade de transferência entre domínios científicos, à facilidade com que pessoas altamente treinadas se podem mover de um campo para outro. Nada impede, por exemplo, que um bom cientista venha a tornar-se um óptimo engenheiro se resolver interessar-se por problemas tecnológicos: não era Charles Steinmetz o fundador dos Laboratórios da General Electric um matemático, com uma tese de doutoramento sobre assunto de geometeria? E não se pode considerar Fermi, o grande físico italiano, como o responsável por notáveis trabalhos de engenharia nuclear?


ENGSTROM, E. W. – Science, technology and statesmanship. American Scientist. Março (1967) 72-79

OCDE – Méthode type proposée pour les enquêtes sur la recherche et le développement (Manuel de Frascati).

UNESCO – Tendances actuelles de la recherche scientifique (P. AUGER).

1 comment:

Regina Nabais said...

Virgílio, obrigadíssima, pela disponibilização, desta informação.
O conteúdo desta entrada é interessantíssimo, porque comprova que há entidades e pessoas que "vêem" muito longe, e outras que têm uma visão de túnel afunilado e só via retrovisor.
Devíamos ser mais cautelosos, selectivos e intransigentes com ou a quem permitimos que "veja" por nós.
Abraço,