Monday, December 31, 2007

Actualidades I.1. Educar

LEITE PINTO, Francisco de Paula – Essa Palavra «Universidade». In «A Universidade na Vida Portuguesa». Lisboa: Gabinete de Investigações Sociais, 1969. Vol. 1, p. 9–42.

Excertos:

Como devem ser educados os homens do mundo novo em evolução? Educar é preparar os jovens a poderem sofrer sucessivas integrações em mundos prospectivos. A Educação deve, pois, conter em si germes de inovações. A Escola de hoje tem de preparar para uma estrutura social em rápida mudança. Entretanto, no decorrer dos séculos, a Universidade sempre repudiou inovações bruscas: as reformas profundas que sofreu foram sempre impostas pelo Poder político. No século XIX, a sua relutância em aceitar saberes técnicos levou este a criar fora dela as chamadas Grandes Escolas Superiores. Mas a Universidade, em crises sucessivas, tem-se renovado incessantemente, acabando por absorver as escolas criadas à sua margem. (p. 9).

Sunday, December 30, 2007

Actualidades I.2. Educação

Dizíamos: «Educação é o processo complexo que tem por fim assegurar a qualquer indivíduo o desenvolvimento da sua personalidade, de maneira a integrá-lo enriquecido na cultura dos seus maiores, e por forma que ele possa ser em potência um elemento de valorização da sociedade.» (p. 15).

Diremos que:

«Educar é preparar os jovens a poderem sofrer sucessivas integrações em mundos prospectivos.»

A Educação deve, pois, conter em si germens de inovações.

Não nos iludamos: em futuro muito próximo qualquer homem exercerá, vida fora, mais de uma profissão. (p. 17)

Saturday, December 29, 2007

Actualidades I.3. Educadores

Podemos dizer que durante a vida dos homens de hoje cada um deles se teve de adaptar a novas convivências sociais.

Qualquer educação deve assegurar a qualquer educando, e segundo a sua natureza específica, o desenvolvimento da personalidade, de maneira a habilitá-lo a servir a sua sociedade em qualquer estádio de uma cultura rapidamente mutável.

Nos tempos dos avós dos nossos pais era a família o educador por excelência, a Igreja era educadora das famílias e dos indivíduos, a sociedade era educadora, no sentido de coagir os indivíduos a normas do «parece bem».

A Escola e os preceptores eram educadores dos escóis.

Neste momento as famílias demissionaram-se da sua posição de educador e a sociedade passou a ser elemento perturbador na acção da Escola, que se tornou o educador por excelência. (p. 20).

Friday, December 28, 2007

Actualidades I.4. Formados

Embora os Estudos gerais concedessem diplomas que habilitavam a uma profissão liberal remunerada, todos os seus graduados haviam seguido um ensino de saberes liberais, pelo que se haviam formado.

Pelas artes liberais se comunicou à Europa uma tradição de estudo e uma disciplina mental.

Estas artes eram «liberais» porque ensinavam o homem a exercer o seu papel de criatura «livre»; eram uma arte de falar correctamente e de convencer pela palavra e ainda uma arte de bem-raciocinar. Por elas se desenvolveu um verdadeiro «apostolado da inteligência» que permitiu o desenvolvimento e a divulgação de literaturas em vernáculos, principalmente a arte poética (de que os cancioneiros que chegaram até nós são impressionantes antologias) e as descrições das andanças heróicas dos cavaleiros das Cruzadas (de que crónicas e novelas são crestomatias sensacionais).

Sem qualquer sombra de dúvida podemos afirmar que o êxito que poetas e cronistas tiveram, em ambientes palacianos ou junto do próprio povo, decorreu do prestígio adquirido, nas cortes principescas ou em contacto com o comum das gentes, por todos aqueles que, por via dos saberes liberais, se haviam imposto pela inteligência. (p. 39).

Thursday, December 27, 2007

Actualidades I.5. Conservantismo

Seja-nos permitido lembrar que no decorrer dos séculos a Universidade foi, por excelência, uma instituição conservadora, no sentido de só ter admitido evoluções lentas. A Universidade sempre repudiou inovações bruscas. As reformas profundas que sofreu foram sempre impostas pelo Poder político.

E seja-nos permitido acrescentar também que na nossa época, onde a própria «Ciência-ficção» uma vez arquitectada é logo suplantada pela realidade, esse conservantismo da Universidade tem de ser fortemente sacudido. (p. 41).

Wednesday, December 26, 2007

Actualidades I.6. Permanente

MANUEL ROCHA – A Educação Permanente. In «A Universidade na Vida Portuguesa». Lisboa: Gabinete de Investigações Sociais, 1969. Vol. 1, p. 43-56.

Oração de sapiência proferida na cerimónia de atribuição do grau de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Excertos:

O interesse da educação permanente é compreendido desde há muito.

Condorcet, o filósofo iluminista, no seu famoso Rapport sur l'organisation générale de l'instruction publique, publicado em 1792, declarava que «L'instruction ne devrait pas abandonner les individus au moment où ils sortent des écoles; elle devrait embrasser tout les âges; il n'y en avait ou il ne fût possible et utile d'apprendre».

Mas como mostra a História, uma ideia não pode florescer enquanto não é compreendida por certa massa de indivíduos. Mesmo presentemente, a determinante do interesse que está despertando a concepção da educação permanente não é a sabedoria de filósofos, mas um novo facto, a chamada explosão dos conhecimentos, verificada desde há alguns decénios e que tudo leva a crer que no futuro cada vez mais se intensificará. Da expansão dos conhecimentos e suas aplicações resultam três consequências directas da maior relevância: i) a impossibilidade de o ensino escolar bastar para fornecer a crescente massa de conhecimentos necessários ao longo de uma carreira profissional, ii) a rápida desactualização dos conhecimentos adquiridos e iii) as frequentes mudanças de tipo de actividade ao longo da vida profissional de um indivíduo. (p. 44-45).

Tuesday, December 25, 2007

Actualidades I.7. Ensinar a Aprender

Postas perante o fenómeno da aceleração do progresso, as escolas de todos os níveis têm tentado ajustar-se mediante o alargamento dos programas, com inconvenientes graves, dos quais destacamos a condução do ensino com vista à informação e não à formação, a extensão exagerada dos programas, e a dispersão dos alunos por múltiplas disciplinas que não podem aprender, sendo obrigados a um esforço de memorização a curto prazo sem qualquer interesse. A presente geração é sem dúvida vítima da carência de ajustamento das concepções de educação, o que leva muitos dos alunos a perder, ou mesmo a nunca adquirir, a alegria de aprender.

É cada vez mais clara a necessidade de a educação escolar, ou de juventude como também é designada, se concentrar na tarefa de formação geral. Isto é, tem de radicar-se a concepção, há muito defendida pelos pedagogos, de que a escola deve «ensinar a aprender», deve moldar «cabeças bem feitas em vez de bem cheias». (p. 45).

Monday, December 24, 2007

Actualidades I.8. Actualização

A segunda consequência que apontámos da explosão dos conhecimentos – a desactualização do saber adquirido no ensino de juventude – já há muito se faz sentir nos países mais desenvolvidos, que têm sido levados, com ritmo crescente, a acções chamadas de reciclagem de conhecimentos. Cada um terá sempre, certamente, de procurar por si evitar a obsolescência dos seus conhecimentos, mas o fenómeno tem de passar a ser visto para além do plano do indivíduo, mesmo para além do da organização onde exerce a sua actividade. Terão de ser criadas, em plano nacional, as estruturas necessárias para assegurar que a actualização não deixe de ser feita com o ritmo e a eficiência exigidos pelo progresso de cada país. (p. 45).

Sunday, December 23, 2007

Actualidades I.9. Aptidão para Aprender

Como é óbvio, o ritmo a que se processa a obsolescência profissional depende do nível de preparação do indivíduo e do seu domínio de actividade. A análise do fenómeno, feita pelo professor Theodore Schultz, da Universidade de Chicago, levou-o a estabelecer a seguinte classificação de conhecimentos e aptidões segundo ordem decrescente de taxas de obsolescência:

- conhecimentos profissionais
- conhecimentos de princípios e teorias
- aptidão a resolver problemas
- aptidão a aprender.

São pois os conhecimentos profissionais, qualquer que seja o seu nível, que mais estão sujeitos a envelhecimento e mesmo os conhecimentos de princípios e de teorias estão sujeitos a rectificação e é necessário alargá-los a um ritmo desconhecido até hoje. É a aptidão para resolver problemas e, sobretudo, a aptidão para aprender que menos estão sujeitas à usura. (p. 45-46).

Saturday, December 22, 2007

Actualidades I.10. Capacidades

No que se refere à concepção da educação escolar, o sistema da edução permanente permite, por um lado, aliviar os programas respeitantes à formação profissional e, por outro lado, ir ao encontro da velha ambição de formação geral. O que se deve pretender, seguindo as ideias do professor Bertrand Schwartz, da Escola de Minas de Nancy, é adquirir um «método de pensamento e um método de acção, quer de acção sobre as coisas e a técnica, quer sobre os homens». Portanto a escola não terá como objectivo preparar indivíduos dos quais possa ser tirado o máximo rendimento profissional no início da sua carreira, mas sim contribuir, juntamente com a educação de adulto, para o pleno florescimento das capacidades de cada um ao longo de toda a vida. (p. 51-52).

Friday, December 21, 2007

Actualidades I.11. Atitude Mental

Quanto à estrutura dos cursos universitários, e pensamos sobretudo nos de engenharia, decorre da concepção de educação permanente que tem vindo a ser exposta que eles devem concentrar-se essencialmente no estudo: i) das ciências de base, como a matemática, a física, a biologia, etc., as quais conferem os hábitos intelectuais, os instrumentos de pensamento e o conhecimento dos fenómenos primordiais, ii) das ciências que chamaremos aplicadas, como a resistência de materiais, a metalurgia, a química analítica, etc., cujo interesse permanecerá ao longo de toda a carreira profissional e, finalmente, iii) das humanidades e ciências sociais, com vista à formação geral, não perdendo de vista que esta não pára na escola. Quanto às humanidades, acentuaremos que tem sido pura ilusão julgar-se que no ensino secundário pode ser obtida através do seu estudo a desejada formação. A maturidade dos estudantes é insuficiente e a apreensão pode mesmo ser defeituosa e conduzir a uma deformação.

Uma questão muito debatida é a do ensino na universidade das próprias matérias aplicadas. Consideramos que devem ser tratadas algumas aplicações, no contexto em que os problemas aparecem na prática, não com a intenção de transmitir conhecimentos de pormenor, mas exclusivamente com vista a ser dado na escola um primeiro passo para a criação da atitude mental própria da futura actividade profissional. (p. 52-53).

Thursday, December 20, 2007

Actualidades I.12. Desajustamentos

ALVES MARTINS, C. M. – Alguns Aspectos do Ensino em Portugal. In «A Universidade na Vida Portuguesa». Lisboa: Gabinete de Investigações Sociais, 1969. Vol. 1, p. 57-80.

Excertos:

Creio que outro problema importante que se põe hoje no nosso País em matéria de ensino para além do ensino obrigatório [seis anos] é o do reconhecimento da existência de um desajustamento entre as necessidades da procura, as matérias ensinadas e a formação recebida pelos alunos. Alguns críticos vão até mais longe – iria escrever, são mais precisos – afirmando que, pelo menos em alguns níveis – poder-se-ia dizer em muitos níveis – a preparação fornecida aos alunos é demasiada se tivermos em conta a grande maioria das funções desempenhadas e está muito longe de ser suficiente para o exercício de outras.

Estamos, assim, perante dois tipos de desajustamento entre a oferta do sistema de ensino e a procura do mercado, um de natureza quantitativa e outro de natureza qualitativa, fenómeno que é uma das consequências da nossa própria evolução social e económica e que exige uma permanente atenção por parte do sistema escolar às necessidades da procura, tanto em termos de número de jovens saídos como em termos da sua qualificação.

Não se ignora que as alterações de estrutura não devem nem podem ser frequentes. Mas há que começar a pensar entre nós que, se o sistema de ensino pretende satisfazer um dos fins para que foi criado, deverá passar a possuir, nomeadamente nos anos terminais com imediato acesso à população activa, mais facilidades de adaptação à realidade, sem o que dará origem a distorções e a uma enorme perda de recursos humanos e materiais. (p. 67).

Wednesday, December 19, 2007

Actualidades I.13. Medidas

No actual estádio do nosso desenvolvimento económico e perante as necessidades reveladas pelo próprio mercado, julgo que a preocupação fundamental deverá ser a de, além de se contribuir para o aumento do nível cultural da população, estabelecerem-se medidas que tenham especial incidência em três aspectos:

a) maior qualificação da população activa;
b) formação de técnicos intermédios;
c) formação de científicos (note-se que não escrevi cientistas).

As medidas indicadas na secção anterior sob epígrafe «ensino obrigatório» constituem sem dúvida condição necessária para que o objectivo indicado na primeira alínea possa ser atingido a médio ou a longo prazo. Mas não são suficientes, e a afirmação é tanto mais evidente se tivermos em conta que há, neste pormenor, tarefas também a curto prazo que têm de ser executadas. Haverá, portanto, que adoptar medidas – algumas delas porventura estranhas ao próprio ensino escolar – principalmente tendentes à promoção das mobilidades horizontal e vertical da nossa população activa, tais como cursos de aprendizagem, de promoção profissional, de especialização, etc. (p. 67-68).

Tuesday, December 18, 2007

Uma Imagem Vale Mais Que Mil Palavras

Eng. José Sócrates
19 de Dezembro de 2007

Vídeo

Decreto-Lei n.º 119/92, de 30 de Junho
Estatuto da Ordem dos Engenheiros

Artigo 2.º
Atribuições

b) Atribuir o título profissional de engenheiro e regulamentar o exercício da respectiva profissão;
g) Proteger o título e a profissão de engenheiro, promovendo o procedimento judicial contra quem o use ou a exerça ilegalmente;

Monday, December 17, 2007

Actualidades I.14. Necessidades

As necessidades manifestadas pelo mercado nas suas mais variadas facetas, o progresso da ciência e a rápida evolução da tecnologia têm aconselhado – e já existe abundante experiência na matéria – a que se proceda, para a mioria dos cursos universitários:

a) ao encurtamento do tempo necessário à formação de uma primeiro nível de graduados;
b) ao estabelecimento simultâneo de cursos para post-graduados;
c) ao adiamento das especializações;
d) à criação da mentalidade e do mecanismo necessário e conveniente para que se possa verificar, de forma permanente, o fenómeno do retorno á escola.

Pouco se tem feito entre nós com vista à satisfação destas necessidades e mesmo quando alguma coisa se fez não me parece que se tenha andado pelo melhor caminho. (p. 71-72).

Sunday, December 16, 2007

Actualidades I.15. Encurtar

Parece estar a ser lugar comum entender-se que criar cursos para graduados com encurtamento dos «curricula» é manter o número de disciplinas dos primeiros anos dos actuais programas do ensino universitário com redução do número de horas correspondentes.

Ora, pelo menos na minha opinião, reformar desta maneira é tão mau como não fazer nada. (p. 72).

Saturday, December 15, 2007

Actualidades I.16. Formação Universitária

A linha de pensamento geral a que deve subordinar-se todo o esquema da formação universitária – e os cursos de graduados são essencialmente formativos – deve partir do princípio de que este ensino universitário não tem por objectivo formar profissionais, nem mesmo nos cursos técnicos. Deve sim:

a) fornecer uam sólida formação científica;

b) ensinar a localizar a necessidade e a oportunidade da aplicação do conhecimento científico.

É evidente que a duração desta fase formativa dependerá da natureza dos cursos; em geral, pode no entanto afirmar-se que não durará mais de 2 a 3 anos escolares, se bem que com mais semanas lectivas do que os actuais. (p. 72).

Friday, December 14, 2007

A Presidência

A Presidência da União em Toda a Sua Glória.


Órgãos de soberania = Organes de souveraineté = Sovereign Organs*

*Mais conhecidos por «Organs of Sovereignty»**


Presidência de fino traço. Um traço bem feito. Sexi, retro, glamorosa, casa na perfeição com o espírito sensual da dita, não só pela qualidade do fino traço, como ainda pelos motivos que envolvem o desenho, inspirados em acontecimentos históricos de grande beleza. Tempero humano no caldeirão da cultura para dar nova consistência, forma e nome ao festival.

Tudo isto a valoriza e realça pelo fino trato, pela amenidade e cortesia das maneiras, pela sedução da conversa, pelo brilho e a cultura do espírito, que tornam sempre querida e agradabilíssima a presidência, quer nos meios literários, quer nos mundanos. Moça prendada, de fino trato, faz de um tudo: roupas fofinhas, casa florida, comida honesta, pele macia e refinado gosto em coisas de arte.

Dotada de largo poder comunicativo, de bom convívio amigo, a presidência não é indiferente à sociedade que a rodeia, sabendo conciliar a vida doméstica e a preocupação de dinamização da união, onde empregou disponibilidades e influências.

Por motivos estranhos à nossa vontade não é dada qualquer referência nem crédito, à autoria, local e data de edição, mas isso são pormenores, coisas sem importância, quando comparadas com a grandiosidade da tarefa, cujo único e, mesmo assim, longínquo paralelo só se encontra na epopeia dos descobrimentos.

**Até a tradução é uma vergonha. Não há pachorra para tanta asneira.

Thursday, December 13, 2007

Actualidades I.17. Formação de Base

Para se obter esta formação de base, contrariamente ao que têm pensado quase todos os nossos legisladores e ao que, infelizmente, aceitam os nossos conselhos escolares (A afirmação não quer significar que muitos professores, isoladamente, não pensam de maneira diferente. Simplesmente, quando se trata de reduzir os «curricula» ao que é verdadeiramente essencial, todas as disciplinas passam a ter importância) não é necessário nem conveniente introduzir nos «curricula» muitas matérias. Pelo contrário, há que dar poucas mas bem, dedicando-se-lhes proventura mais horas do que as habituais na maior parte do ensino de hoje. (Talvez devesse acrescentar aqui uma condição que reputo «sine qua non» da aceleração do nosso progresso técnico e científico, para não falar já do progressso económico: a necessidade do ensino obrigatório de uma língua estrangeira nos «curricula» dos cursos de formação da maior parte das Escolas Superiores e nos de todos os cursos para post-graduados, se os alunos não mostrarem que a dominam com grande facilidade.)

O facto de se ministrarem poucas matérias também não significa que se deva aumentar a sua extensão. O que deve é procurar fornecer-se aos alunos, nesses primeiros anos, a formação de base, através de conceitos simples mas muito bem apreendidos, havendo sempre a preocupação de lhes incutir a metodologia científica, quer através de exposições, quer e sobretudo através de numerosos exercícios de aplicação (Uma das preocupações ... deve ser ensinar [o aluno] a estudar, procurando mostrar-lhe o que há de essencial no conhecimento científico.), deixando para a post-gradução a aprendizagem de matéria mais complexa, mesmo a de disciplinas que serviram para a formação, visto só ser útil e vantajosa para quem vai seguir um número muito restrito de especialidades.

Consirando em particular a evolução do conhecimento tecnológico, a formação de base deverá ser comum para quem venha a ser técnico superior ou a dedicvar-se à investigação laboratorial dentro do mesmo campo. Quer dizer, a distorção vem depois, nunca antes.

Esta atitude condena, portanto, em absoluto, todo o tipo de ensino enciclopédico, em que o aluno decora ou percebe e decora, para passar nos exames, um sem número de conceitos e raciocínios a) que esquece pouco tempo depois, b) de que, muitas das vezes, nunca mais ouve falar e c) que em vez de contribuir para a sua formação e atracção o deformam e lhe criam repulsa.

O número de disciplinas-base, de carácter formativo, deve, como afirmei, ser reduzido a um mínimo, dependente do domínio científico e do grau de especialização que a faculdade ou Escola Superior pretenda atingir, este, por sua vez, dependente das necessidades a médio prazo do mercado. (p. 72-73).

Wednesday, December 12, 2007

Actualidades I.18. Tempo Livre

Observada a distribuição do número anual de horas, verificar-se-ia outra característica de um destes cursos portugueses: a tendência para a diminuição do número de horas de aula nos últimos anos. Creio que houve a louvável ideia de deixar tempo livre aos alunos com vista à sua melhor preparação escolar e extra-escolar mas não parece que a experiência tenha resultado como se esperava e seria de desejar. Será sem dúvida um facto a ter em conta a justificar o encurtamento de certos cursos. (p. 77).

Tuesday, December 11, 2007

Actualidades I.19. «Deficit» de Alunos no Ensino «Científico e Técnico»

O Quadro I revela que se verifica ainda para Portugal a tendência tradicionalista de haver menor atracção por parte dos alunos para o chamado ensino «científico e técnico», onde houve um «deficit» em relação às necessidades mínimas previstas pelo Projecto Regional do Mediterrâneo, enquanto para o «outro» ensino se observou um «superavit» de 3 487 alunos inscritos.

... a evolução das inscrições nos dois ramos tem-se verificado entre nós da forma que indica o Quadro V. Da sua observação conclui-se que, no período que medeia entre 1950/51 e 1964/65, o número de alunos do ensino superior praticamente duplicou, tendo o ensino «científico e técnico» crescido de 52 % e o «outro» de 169 %, exactamente ao contrário do que seria para desejar. Em termos de crescimento, como é evidente. Nada há a opor, dentro dos limites em que se verificou, ao aumento do número de alunos do ensino não «científico e técnico». O que se anota com preocupação é que os alunos do ensino «científico e técnico» não tenham aumentado em muito maior número.

Está bem de ver que, se continuarmos a deixar a solução deste problema ao factor tempo, é natural que, a pouco e pouco, se verifique um ajustamento mais consentâneo com as necessidades do País. Mas é evidente que semelhante atitude nos vai trazer fortes distorções do mercado, além de perdas de recursos humanos e materiais que não me parece sermos suficientemente ricos para permitir. (p. 77 - 78).

Monday, December 10, 2007

Actualidades I.20. Previsões

Já seria alguma contribuição no sentido construtivo adiar-se para mais tarde a opção que se impõe hoje às crianças que acabam o 5.º ano dos liceus da escolha definitiva de uma carreira ou construir-se um regime de opções suficientemente limitado que desse depois maior leque de possibilidades de entrada no sistema universitário. Também merece todo o apoio a iniciativa de se informarem os alunos dos liceus acreca da natureza das diferentes carreiras universitárias, tantas vezes suas desconhecidas.

Mas estas medidas não me parecem suficientes, porquanto devem ser acompanhadas do estudo imediato das soluções a adoptar a médio prazo, entre as quais se inserem a reforma do ensino secundário, a re-estruturação dos ensinos médio e superior e a análise prospectiva permanente das necessidades de pessoal científico e técnico, quer reformulando, se necessário, as previsões do Projecto Regional do Mediterrâneo, quer elaborando estimativas, por grandes grupos de especialidades, das necessidades do País nos próximos 10 ou 15 anos. (p. 78).

Sunday, December 09, 2007

Actualidades I.21. Bolsas de Estudo

A mais curto prazo creio que poderiam adoptar-se soluções de efeito mais rápido destinadas a aumentar a oferta de certos técnicos. Entre elas aponto ... que me parece de momento susceptível de concretização:

a) instituição de um esquema adicional de bolsas de estudo dando preferência aos alunos que se destinem a cursos «científicos e técnicos»; (p. 78 - 79).

Saturday, December 08, 2007

Actualidades I.22. Outros Caminhos

Se observamos a frequência do nosso ensino universitário e as tendências do aumento do número dos alunos por especialidades é fora de dúvida que haverá, dentro de pouco tempo, necessidade de construirmos mais edifícios escolares e de criarmos novos cursos.

Parece provado que uma das formas mais eficientes de promover a atracção de alunos é através da criação de escolas fornecendo as especializações convenientes. Tem-se, de resto, assistido ultimamente em Portugal à manifestação deste facto com visão muito mais realista por parte do sector privado.

Acredito que seja difícil ao sistema oficial promover a criação e a instalação do ensino de certas especialidades e que a matéria requeira estudo ponderado.

Se não temos a coragem ou não achamos oportuno adoptar soluções como, por exemplo, a da Turquia através da criação da Universidade Técnica do Médio Oriente, porque não ensaiamos outros caminhos?

A U.T.M.O. é de criação oficial mas tem completa autonomia («curricula», contrato de professores, construções, etc.) dentro de um orçamento anual que neste momento é de 164 mil contos (50 % para despesas correntes). O ensino é todo feito em língua inglesa.

[...]

Deixo a ideia para que seja ponderada. Mas de uma coisa estou certo: não é com pequenos ajustamentos que poderemos resolver os problemas do nosso ensino. Ou temos coragem ou morremos de erudição.

Setembro de 1967. (p. 79 – 80).

Friday, December 07, 2007

Actualidades I.23. Economia e Recursos Humanos

MÁRIO MURTEIRA; ISILDA BRANQUINHO – Desenvolvimento de Recursos Humanos e Ensino Superior: Problemática Portuguesa numa perspectiva comparativa. In «A Universidade na Vida Portuguesa». Lisboa: Gabinete de Investigações Sociais, 1969. Vol. 1, p. 81-95.

Excertos:

Neste trabalho, o nosso intuito é o de relacionar desenvolvimento económico com desenvolviemto de recursos humanos. Este objectivo levou-nos a seleccionar cinco indicadores, entre dezasseis retidos > priori. A selcção baseou-se no valor do coeficiente de correlação ordinal, em que um dos atributos considerados foi sempre o nível de desenvolvimento económico e o outro, sucessivamente, cada um dos indicadores de recursos humanos. Os indicadores foram os seguintes:

- Percentagem da mão-de-obra de alto nível [...] na mão-de-obra total; designado seguidamente por A.III-1 [...];

- Número médio de anos de estudo da mão-de-obra; desigando por A.II-1;

- Percentagem de mão-de-obra científica e técnica na mão-de-obra total, A.IV-1;

- Professores por 1 000 habitantes, A.VI;

- Proporção entre engenheiros e juristas (stocks), A.VII.

Foram obtidos os seguintes coeficientes de correlação ordinal (como se disse, sendo o outro atributo o nível de desenvolvimento económico) para aqueles indicadores.

A.III-1 0,92 20 países na amostra
A.II-1 0,82 16
A.IV-1 0,80 15
A.VI 0,71 15
A.VII 0,70 15

(p. 82 – 83).

Thursday, December 06, 2007

Actualidades I.24 Estruturas Ocupacionais de Mão-de-Obra

A associação estatística determinada entre a ordenação dum grupo de países segundo o seu rendimento per capita e a ordenação do mesmo grupo segundo diversos indicadores relativos a recursos humanos, merece alguns comentários.

O indicador aparentemente mais significativo (designado por A.III-1) não traduz, em primeira aproximação, disparidades de níveis de instrução, mas sim de estruturas ocupacionais de mão-de-obra. Com efeito, os grandes grupos profissionais considerados – profissões liberais e técnicas e directores e quadros administrativos superiores – podem ser preenchidos por indivíduos dotados de níveis de instrução muito diversos; por outro lado, a importância relativa daqueles grupos depende, entre outros factores, do peso relativo dos diferentes sectores de actividade económica, nomeadamente a importância assumida pela indústria na estrutura económica. Verifica-se ainda que a disparidade entre número médio de anos de estudo da mão-de-obra total e da mão-de-obra de alto nível, segundo níveis de desenvolvimento económico, é maior no primeiro caso. Dito de outra forma: parece ser comparativamente mais desfavorável a situação dos países pobres no que se refere à instrução média da mão-de-obra total do que quanto à instrução média de mão-de-obra desempenhando funções de alto nível. Em todo o caso, os aspectos qualitativos da formação da mão-de-obra são aqui decisivos e atenuam o significado daquelas conclusões. (p. 83).

Wednesday, December 05, 2007

Actualidades I.25. Importância Estratégica

O indicador considerado em segundo lugar – número médio de anos de estudo da mão-de-obra – parece ser o mais representativo do nível médio de desenvolvimento de recursos humanos, mas a sua generalidade prejudica necessariamente o seu significado. Assim, os três indicadores considerados seguidamente dão ênfase à importância estratégica de determinadas categorias de mão-de-obra e correspondentes qualificações: da mão-de-obra científica e técnica, dos professores e, mais em particular, dos engenheiros. É de destacar a correlação relativa ao quociente entre engenheiros e juristas, facto que confirma a abundância dos últimos e a escassez dos primeiros nos países economicamente menos desenvolvidos.

Convém salientar que a análise anterior não permite o estabelecimento de relações de causalidade entre desenvolvimento económico e desenvolvimento de recursos humanos. A associação estatística determinada permite apenas concluir que o desenvolvimento económico é concomitante com os aumentos da proporção da mão-de-obra de alto nível na mão-de-obra total, do número médio de anos de estudo da mão-de-obra, da proporção de pessoas de formação científica e técnica, do número de professores por 1 000 habitantes, e enfim, da relação entre engenheiros e juristas na mão-de-obra de alto nível de qualificação. (p. 83 - 84).

Tuesday, December 04, 2007

Actualidades I.26. Classificação Desfavorável

A posição de Portugal no grupo de [15 a 20] países considerados e tomando por referência os indicadores seleccionados [é] que, exceptuando o último indicador, a situação de Portugal não é mais favorável do ponto de vista do desenvolvimento de recursos humanos do que tomando por referência o nível de desenvolvimento económico. Esta conclusão é ainda reforçada, se considerarmos mais os seguintes indicadores:

- Diplomados pela universidade, em percentagem da mão-de-obra …
- Proporção da população adulta com instrução do segundo e terceiro níveis …
- Proporção da população adulta com instrução do segundo nível …
- Idem, só terceiro nível …



Em resumo, a classificação de Portugal referida a diferentes critérios, relativos a recursos humanos, é mais desfavorável do que a correspondente classificação quanto a níveis de desenvolvimento económico segundo cinco indicadores, idêntica em três casos e mais favorável apenas num caso. Quanto a este indicador, deve notar-se, todavia, que a proporção de estudantes de engenharia relativamente a alunos de direito diminuiu em Portugal entre 1960 e 1964. (p. 84 – 85).

Monday, December 03, 2007

Actualidades I.27. Formar Homens e Mulheres é Mais do que Fabricar Factores Produtivos

Como deve ser considerado o ensino superior no âmbito duma estratégia global de desenvolvimento de recursos humanos ajustada à realidade portuguesa? É esta questão fundamental que se procurará seguidamente atender, sem, no entanto, pretendermos mais do que fornecer alguns elementos úteis de reflexão relativamente à questão posta.

Importa, antes do mais, recordar que em todo este texto se pretende relacionar educação com desenvolvimento económico e que, em consequência, se assume apenas uma perspectiva possível, e nem sempre necessariamente a mais significativa. Discussões em torno deste ponto têm sido frequentes, pelo que nos dispensamos de afirmar mais do que isto: os autores deste trabalho também não julgam que seja o único ou o mais importante critério a seguir na política educacional o serviço do desenvolvimento económico do País; formar homens [e mulheres] é, sem dúvida, mais do que fabricar factores produtivos. Mas valorizando devidamente esta verdade elementar (e talvez por isso mesmo), não negamos a justificação da perspectiva escolhida, desde que devidamente interpretada. (p. 87).

Sunday, December 02, 2007

Actualidades I.28. Qualidade de Ensino

Não é ousado afirmar que à Universidade deveria incumbir a responsabilidade principal na formação [de] grupos profissionais; nem tão-pouco será arriscado reconhecer que, mais do que um problema quantitativo de acesso ao ensino superior, está aqui em causa um problema de qualidade de ensino. O que já poderá surgir aqui como afirmação ousada é o seguinte: não serão possíveis progressos qualitativos em matéria de recursos humanos, à altura das necessidades actuais do País, sem reformas decisivas ao nível do ensino superior. É, portanto, esta afirmação que, com a menor subjectividade possível, carece de ser fundamentada, para além do ficou exposto. (p. 87)

Saturday, December 01, 2007

Actualidades I.29. Capacidades Empresariais

As discussões recentes acerca do atraso tecnológico da indústria europeia relativamente à norte-americana parecem, ao menos, ter esclarecido um ponto: que o atraso tecnológico europeu resulta mais do desnível entre as capacidades empresariais do que entre cientistas e técnicos dos dois continentes. À modestíssima escala portuguesa neste domínio, não custa reconhecer que a industrialização moderna baseada na ciência e na tecnologia só será possível com dirigentes de empresas verdadeiramente à altura dessa função; descabido seria isolar o problema do progresso tecnológico da indústria nacional daquela questão fulcral. Ora, a Universidade portuguesa encontra-se particularmente mal dotada neste domínio verdadeiramente estratégico. (p. 89).