[…] os diplomados tomam consciência de que constituem um segmento ou camada de população que ocupa posições-chave, quando não dominantes. A consciencialização dessa posição leva-os modalmente a defenderem uma situação que lhes é favorável, rodeando-se de uma barreira esotérica: a do saber, ou mais realisticamente do diploma, que passa a constituir, do ponto de vista sociológico como que uma «ordenação sacra». O diplomado pode exercer e exerce uma função superior, primordialmente porque tem um diploma e porque é reputado, só por isso, como «sabendo», e não porque em primeiro lugar ele efectivamente saiba, embora este último aspecto tenha influência na sua carreira futura. Isto lembra, em certa medida, o que se passava na Idade Média: o facto de pertencer a determinada categoria social habilitava os indivíduos a desempenharem só por essa razão funções de comando.
Este reflexo modal de defesa das posições obtidas e das situações que as garantem pode tomar diversas formas exteriores, cujas motivações profundas nem sempre aparecem explicitamente: reserva de lugares, «capelinhas» e nepotismos (de «famílias» intelectuais), valorização do diploma pela realidade dos possuidores, dogmatismo científico ou doutrinário, procura de apoios políticos extra-profissionais, etc.
Desta forma, e não obstante o ensino poder constituir uma via de democratização social, a classe dos diplomados corre risco de tornar-se um grupo de interesses, criador da obstáculos ao desenvolvimento geral da sociedade, mormente se não há concorrência aberta entre eles e se simultaneamente existe um certo monolitismo de escola.
[…] parece-nos que a maneira mais eficaz de garantir que o ensino seja um meio de democratização social e, ao mesmo tempo, um factor poderoso do desenvolvimento sócio-económico, é a de democratizar, por seu turno, o acesso ao ensino, pondo-o ao alcance de todos, não só através de ajudas financeiras aos estudantes, mas também mediante uma melhor repartição geográfica dos estabelecimentos de ensino, e pela formação adequada e multiplicação do corpo docente. (p. 252-253).
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