… Não cremos seja excessivo pensar que o futuro da sociedade portuguesa está pendente, em medida muito considerável, das medidas que venham a tomar-se [no] campo … das condições que informam, no nosso país, o ensino superior científico e tecnológico. … Aliás, já o esteve de decisões semelhantes, em séculos transactos, quando forças dominantes no país e na Universidade, primeiro obstaram ao desenvolvimento das expressões então modernas do Conhecimento e da Cultura, e depois adoptaram as formas institucionais menos aptas para as promover e transmitir. Foi essa porventura uma das razões historicamente mais decisivas do atraso em que o país hoje se encontra. Em nossos dias, opções análogas teriam certamente consequências ainda mais graves.
Em contrário do que acabamos de expor, argumenta-se, por vezes, que já existem em Portugal excedentes de licenciados em certos ramos das Ciências e da Tecnologia, onde se verificam dificuldades de colocação no mercado de empregos. Dada, porém, a exiguidade internacionalmente comprovada do escol científico e técnico português, esses excedentes, a existirem de facto, só podem ter um de dois significados, senão ambos. Ou resultam de uma simples discordância entre, por um lado, a estrutura quantitativa e/ou qualitativa da oferta de diplomados e, por outro, a composição da respectiva procura – e, neste caso, adequadas medidas de política e de reforma universitária poderão lograr um melhor ajustamento, porquanto aquela estrutura é largamente determinada pela do sistema universitário e pelas suas condições de funcionamento. Ou têm origem na incapacidade das próprias estruturas económicas, culturais e institucionais do país para receber e ocupar os agentes qualificados de que o desenvolvimento nacional tem premente necessidade – e, nesta hipótese, estar-se-á perante uma situação de atraso estrutural global, que se deverá procurar vencer mediante um conjunto de reformas modernizantes e convergentes em vários sectores, um dos quais será exactamente o do ensino universitário. (p. 444 – 445).