… [o método de ensino] que efectivamente predomina em Portugal, por larga margem, é o escolástico. (p. 162).
… o ensino universitário processa-se através de prelecções em «aulas teóricas», frequentemente completadas por «exercícios» de aplicação em «aulas práticas». No entanto, nestas últimas também por vezes se expõe matéria «teórica» adicional … (p. 162).
… [no seu discurso inaugural do ano lectivo de 1967/68, da Universidade Técnica de Lisboa, o Reitor] Prof. Herculano de Carvalho exprimiu o receio de «que a salutar reacção que há uns anos se deu entre nós contra o chamado ensino livresco esteja a perder força». O controlo dos resultados – ou, para usar a terminologia oficial: a «verificação do aproveitamento» - efectua-se mediante exames escritos e orais, onde, essencialmente, os alunos têm de provar que «assimilaram» a matéria preleccionada e/ou adquiriram a habilidade indispensável para «resolver exercícios» semelhantes aos que lhes foram apresentados nas aulas práticas.
Na pura lógica de tal processo pedagógico – isto é: quando ele opera sem interferências de «inovações» (ou «correcções») adoptadas num certo número de disciplinas … toda a «informação» decorre dos docentes, quer pela via da exposição oral de «teoria», quer pela da formulação e correcção de «exercícios». Os alunos não têm que carrear, laborar, explanar qualquer «informação» que eles mesmo hajam de recolher em fontes distintas daquela que o próprio docente representa (livros, revistas, documentos, estatísticas, observação da realidade). Em rigor, o papel que lhes cabe, no sistema escolástico, reduz-se ao de re-emitir, para o professor e nos exames, a «informação» que o professor, nas aulas e para os alunos, previamente emitiu. Mataforicamente, poder-se-ia dizer que exercem uma função de reflector.
Naturalmente, aquela «informação» é susceptível de ser arquivada em manuais ou «sebentas» e em livros ou cadrenos de «exercícios». Donde ser viável «fazer estudos», sem no entanto se estudar (ou estudando pouco9 durante a maior parte do ano académico: na verdade, como o que conta, para fins de «verificação de aproveitamento», é essencialmente a fideleidade da re-emissão no momento dos exames, fica assim aberta aos alunos a possibilidade de, só quando os exames se aproximam, procederem à leitura e memorização intensiva da «teoria» e à repetição – individual ou em grupo – dos «exercícios» compendiados. Torna-se até possível «tirar um curso», sem se frequentarem quaisquer aulas … Tais paradoxos são fictícios: em pura pedagogia «escolástica», os únicos actos com decisiva importância, por parte dos alunos, são de facto os exames. (p. 162 – 163).