Friday, September 21, 2007

Actualidades III.1. Resistências à Reforma Universitária

MILLER GUERRA- As Universidades Tradicionais e a Sociedade Moderna: Aviso Prévio Efectuado na Assembleia Nacional em 14 de Abril de 1970 Seguido do Respectivo Debate, Lisboa, Moraes, 1970.

Excertos:

O Sr. Miller Guerra: - …

As principais resistências à reforma universitária afiguram-se-me ser de duas ordens; uma de natureza intrínseca ou institucional, a outra de natureza extrínseca, social ou, melhor dizendo, sócio-política. Não quero dizer, de forma nenhuma que tudo se reduza a estas duas alíneas. Mas entendo que, tocando nelas, vou levantar uma série de questões, de problemas, de interrogações e de dúvidas que provavelmente nos dias seguintes aqui serão debatidos.

Começo pelas resistências intrínsecas ou institucionais. Fazendo uma análise, mesmo superficial, da organização do nosso ensino superior, desde a base até ao vértice, podemos vislumbrar uma pirâmide com uma base enormíssima, alargadíssima, constituída pelos estudantes, e um vértice, que naturalmente é um ponto, constituído pelo Ministro. …

Este conjunto constitui … as forças ou, melhor dizendo – não empregando por enquanto esta linguagem -, as camadas permanentes, fixas, imutáveis, inamovíveis, de toda a pirâmide. O ministro e os estudantes constituem as camadas móveis, transitórias, ou mesmo efémeras.

Por esta constituição e por esta análise se verifica rapidamente que, por mais reformadores que sejam os Ministros ou por mais reformadores, ou mais que isso, sejam os estudantes, há umas estruturas que permanecem, que ficam, que se conservam. … Estas são forças permanentes. As outras, as transitórias, realmente são pouco poderosas, mesmo quando estejam cheias de ardor e de razão.

Aqui temos nós, portanto, neste rápido esboço que fiz da organização, como é necessária uma reforma, não apenas de uma parte e que se limita a uma alteração ou modificação circunstancial, mas, realmente, uma reforma de estrutura, uma reforma institucional. …

Quanto às resistências externas, elas estão naturalmente interligadas, sobretudo no sistema universitário que nos rege, às resistências internas, visto que a Universidade, embora ande desligada da vida nacional, está ligada a ela por elos extrínsecos e quase furtivos.

Os catedráticos ocupam na vida política, na vida económica e nos centros directores da vida nacional posições de relevo, posições excepcionais, posições de comando. (p. 9 – 12)

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