Friday, September 14, 2007

Actualidades III.8. Equívocos

O Sr. Pinto Machado: - …

1) Como organismo unitário, constituído por partes interdependentes e reciprocamente influenciadas, a Universidade não existe … , pois aquilo que assim se chama não passa de um aglomerado de faculdades ou escolas e institutos superiores auto-suficientes, por sua vez constituídos por um aglomerado de cátedras independentes. Entre nós, a instituição a que chamamos «Universidade» apenas existe do ponto de vista administrativo. É, portanto, uma convenção, um artifício – um mito.

2) Como situação de facto, os docentes (com excepção dos catedráticos) estão sujeitos a exigência dicotómica: para serem contratados e mantidos nos seus cargos ao abrigo da acusação de abandono do serviço, pede-se-lhes apenas que ensinem – ou mais precisamente, que dêem aulas -, mas para ascenderem na carreira universitária só conta – ou quase só conta – a investigação que tenham realizado, sendo aliás díspar e muitas vezes discutível o critério de valorização desta. As consequências pedagógicas nocivas desta dicotomia trágica são evidentes e sofrem agravamento pelo facto de, por condicionalismos vários – ausência de exercício em tempo integral, necessidade de, por falta de infra-estruturas materiais e sobretudo humanas, o investigador ter de exercer funções de servente, técnico, bibliotecário, arquivista, dactilógrafo, etc. -, o docente que queira fazer investigação séria tem de descurar, por falta de tempo, a sua preparação pedagógica e a assistência que, para além das aulas, os seus alunos têm o direito de esperar dele.

3) …

b) É acentuado e crescente o desfasamento entre os tipos profissionais que a Universidade fornece ao País e os homens de mentalidade universitária de que o País urgentemente carece em ordem ao seu desenvolvimento económico, social, cultural, moral e político.

4) … O nosso ensino superior não se distingue, pois, do nosso ensino liceal por ser de natureza diferente, mas só pelo volume e complexidade das informações ministradas. O método de ensino (?) é o mesmo – repetitivo -, a demonstração de aproveitamento, a mesma – recitativa – e o resultado, igual – atrofia da razão crítica, metamorfose do cérebro em ficheiro … desarrumado, e nem sempre actualizado. Como a Universidade orgânica, o nosso ensino superior é um mito. (p. 37 – 39).

1 comment:

Alexandre Sousa said...

Fantástica actualidade!

Diz A, diz B, diz C que 30 dias não chegam para discutir... Então e os 30 ou 40 anos que estes textos têm, não chegaram?
P de P que esta Terra é.