Monday, June 25, 2007

Banco de Portugal

[A Oliveira Martins]

Vale de Lobos, Fevereiro de 1877.

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Bem pode crer que não tenho, sobretudo aqui, nem meios, nem paciência, nem tempo para estudar, nem os factos relativos aos estabelecimentos do Porto, nem as propostas do governo sobre a organização do chamado crédito nacional. Do folheto do meu amigo, o que infiro é que esses banquistas daí são uma alcateia de traficantes e burlões, e que o governo quer o monopólio da coisa para uns amigos seus de Lisboa, que vão tratando da vida, mas com quem o governo se acha, nos apertos trazidos por despesas, tantas vezes, posto que nem sempre, irreflectidas ou insensatas. As façanhas e cavalaria dos banqueiros do Porto resultam claramente do seu folheto: as do governo são inferências que dele tira a minha danada má-fé.
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O Governo quer tutelar directamente o especulador inepto, o desleixado, o gastador, o tolo que aceita a ordem à vista, a nota promissória dos trapaceiros do Porto. Recorre para isso ao monopólio do crédito, que rodeia de umas garantias que não estudo, nem leio, porque seria inepto estar a degustar o açúcar com que é condimentado o absurdo e a expoliação.
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Do que levo dito já vê o meu amigo que eu acho tanta razão à liberdade por privilégio que tinham certos bancos do Porto de emitir notas, como os intuitos do Governo de monopolizar esse privilégio, no banco nacional, que já me roubou 60 por cento nas suas notas com curso forçado, e que remediou tudo passando a chamar-se, em vez de Banco de Lisboa, Banco de Portugal.
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Alexandre Herculano - Cartas a Oliveira Martins. In «Cartas». 5.ª ed. t. I, p. 234-246.

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