Thursday, June 14, 2007

Mocidade

O comércio está arruinado. A lavoura está decadente. A propriedade está hipotecada.

Só prosperam, só se procriam, só se reproduzem indefinidamente as instituições de jogo e usura, as casas de penhores e os bancos!

Os bancos são os lugares de perdição em que os países pobres e ambiciosos se arruínam trocando a sua pequena riqueza real por uma maior riqueza contingente e fictícia, abdicando o trabalho e criando o jogo, dando dinheiro e recebendo papéis.

A mocidade vive nas antecâmaras do governo como os antigos poetas do século passado nas salas de jantar dos fidalgos ricos. Os velhos são agiotas ou servidores do Estado. Os moços são bacharéis e querem bacharelar acerca da coisa pública e à custa da mesma coisa acerca da qual bacharelam. Dizem-se republicanos, democratas, socialistas, falam muito na organização sistemática do trabalho e nos destinos das classes laboriosas, mas não nos dão em si próprios o exemplo da que o primeiro dever de todo o cidadão que se quer prezar de democrata e de livre é ele próprio bastar para si mesmo, prover pela sua iniciativa a todas as suas necessidades, descentralizar-se, trabalhar só, viver de si, que é o único meio de não ser explorado e de não explorar ninguém, afirmar-se finalmente na única forma da independência poderosa e legítima, na única dignidade verdadeira e segura – o trabalho pessoal e livre. A mocidade tem a mais elevada compreensão dos destinos sociais, da moral e da justiça. Unicamente a mocidade tem um defeito que há-de esterilizar a sua iniciativa: ela pensa, mas não trabalha. Assim se, pela sua razão, ela caminha para a conquista ideal das coisas justas, pelas necessidades da vida ela fica fatalmente na órbita subalterna das simples coisas conquistadas.

As Farpas. ed. de 1943. t. IV, p. 119 – 132.

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