Os esforços que fizemos para conquistar a liberdade que hoje temos não bastaram para regenerar as nossas almas do aviltamento em que por muito tempo estiveram. Tinha-nos ficado, como um defeito nativo, a dobra servil. A nossa vocação especial fora muitos anos – sermos vítimas; faltaram-nos repentinamente os algozes, não aprendemos a ser mais nada, e ficamos numa desocupação desconsolada e abatida. A guerra de que proveio a constituição deu-nos apenas uma vitalidade febril e passageira. Logo que deixámos de discutir os princípios da liberdade que então nos propusemos, não tornámos a fazer mais nada senão servir os interesses pessoais e a ambição dos indivíduos.
Do sistema que não temos sabido manter consistente e válido restam-nos apenas hoje os benefícios que ele, depois de corrompido, faculta às mediocridades ambiciosas, ao patronato, à intriga, à pusilanimidade, à baixeza. Temos do constitucionalismo – esgotado – tudo o que ele tinha de mau na lia: a nobilitação dos parvenus, a falsa grandeza, a falsa virtude, o falso talento, o funcionalismo exuberante, a arrogância burguesa, o reinado da usura, a ruína do trabalho, a sofismação dos princípios, a decadência da arte, a depravação do gosto, a queda dos caracteres e dos espíritos para o fútil, para o ordinário, para o reles, para o chinfrim … Vede a Câmara dos Deputados: não é só a precisão nas ideias, a firmeza nos princípios e a nobreza na palavra o q eu a ela lhe falta, falta-lhe também a dignidade do porte, faltam-lhe as maneiras, falta-lhe a toilette, e é quase tão ridícula pelos seus discursos como pelas suas gravatas; sente-se a má companhia, revela-se o mauvais lieu no simples aspecto chulo dos Cíceros pimpões.
As Farpas. ed. de 1943. t. IV, p. 119–132.
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Friday, June 08, 2007
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