Tais são, Senhor [Rei D. Luís I], os selvagens súbditos, de que uns exemplares figuraram com os seus fatos de flanela branca e o seu gorro vermelho na procissão camoniana. O mais célebre dentre eles é o Maio, que ao lado de V. M. foi condecorado pela Humanitária do Porto.
Ora as condecorações, Senhor, são como as esmolas e os discursos: não se lhes exagere o valor! Estão no seu lugar como consagração ou complemento das coisas, mas tornam-se um escárnio, até uma indignidade, quando se quer com elas evitar o cumprimento dos deveres. Condecorar o poveiro que tem salvado tantos náufragos sem dar um passo para evitar a causa dos naufrágios, é um proceder que nem a justiça, nem o bom senso mais elementar aprovam.
…
Não basta que ao peito de Maio se pendure a medalha de honra, nem que se dêem vinte mil réis ao Sérgio: é necessário que na praia da Póvoa se construam os molhes de abrigo – exactamente para não haver mais náufragos a salvar, nem mais heróis a enobrecer. V. M. não quer decerto que as vítimas do mar sejam o preço dos tropos oficiais e das «festas de caridade», espectáculos humanitários em que se deleita a hipocrisia nossa contemporânea.
Oliveira Martins - Requerimento dos Poveiros. In «Política e Economia Nacional». 2.ª ed. 1885. p. 195 – 205.
Everything you wanted to know about higher education but were too bus(laz)y to search the Web
Sunday, June 24, 2007
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment