A raça portuguesa foi lentamente e surdamente corrompida pelo antigo despotismo monárquico, pela soberba intrépida e barulhenta dos fidalgos, pelo ouro das conquistas e principalmente pelo monasticismo. Fizemo-nos ociosos, vaidosos, pusilânimes, supersticiosos e fanáticos. A religião – mais clerical que divina – penetrando-nos completamente, dando-nos uma lei infalível para a consciência, proibindo-nos pensar, assegurando-nos a bem-aventurança com o fácil remédio do arrependimento, lavando-nos de todos os crimes por meio da simples confissão deles, lançou-nos na inércia passiva a respeito do problema dos nossos destinos mais elevados. Ensinaram-nos a explicar a culpa pela tentação do Demónio e a considerarmo-nos inocentes pela absolvição dos confessores. Com semelhante teoria o dever e a responsabilidade desaparecem. A consciência cai na imobilidade. As altas relações verdadeiramente religiosas do homem com Deus desaparecem na intervenção do clérigo que se encarrega de todas as acomodações com o céu. Quando um povo assim delega inteiramente nos seus padres o cuidado de salvarem por ele a eternidade da sua alma, como querem que esse povo tenha, para dirigir o que é temporal e contingente, o valor, a dignidade, o sentimento de responsabilidade e de iniciativa que não teve para guardar por si mesmo o que era divino e terno? Quem não tem força para recusar o domínio da sua consciência aos padres também a não pode ter para disputar a sua liberdade aos déspotas. O fanatismo prostra.
Depois a aliança com que o clero tem estreitado a ideia do bem com a do interesse espiritual e com a do sentimentalismo religioso abastarda a noção pura da justiça.
As Farpas. ed. de 1943. t. IV, p. 119–132.
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Thursday, June 14, 2007
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