Thursday, June 07, 2007

Tirania de Charlatães

Sociedade em supuração, onde «os escroques falam de moral, as mulheres perdidas de civismo, e os mais infames dos humanos da dignidade da espécie humana». Assim se devolveu a França «numa mesa de jogadores, onde com a oferenda do cidadão activo, com palratório, audácia, e uma cabeça efervescente, - os mais subalternos dos ambiciosos arremessaram os seus dados». Quando a vida nacional é dirigida, não pelo trabalho das elites (onde sempre incluo a elite operária) e por associações especiais para fins concretos e limitados , mas pelo centralismo jacobino, romântico, fanático, anónimo e verbalista, - a «soberania popular» é uma tirania de charlatães, a escravizar o maior número. Não importa: ele, jacobino, declara-se maioria, e neste pressuposto dirá, como Retif de la Bretonne, que «a minoria» (o não-jacobino) «é sempre criminosa, ainda quando moralmente tem razão».

(Artigo publicado na «Águia», Junho 1917).
António Sérgio - A Propósito dos Ensaios Políticos de Spencer. In «Ensaios». 2.ª ed. t. II, p. 181-204.

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